Estamos encerrando mais um mês de setembro, aquele mês que todo mundo lembra (e fala) sobre saúde mental. Roda de conversa, campanha no Instagram, palestra sobre burnout, um post amarelo no feed. E está tudo certo com isso, afinal, precisamos sim de campanhas que tragam o assunto à tona.
Mas a pergunta que não sai da minha cabeça é:
Será que só em setembro a gente precisa se preocupar com saúde mental?
Durante esse mês, vi algumas ações sendo feitas, dentro e fora das empresas. Algumas me tocaram, outras pareciam só cumprir tabela. E talvez seja esse o ponto: o cuidado emocional não pode ser pauta de calendário. Cuidar de pessoas não pode ser um projeto pontual. É um compromisso contínuo.
E você, como viveu o Setembro Amarelo?
- Participou de alguma ação?
- Sentiu que fez sentido pra você?
- Se sentiu num ambiente seguro pra ser quem você é?
- Conseguiu abrir espaço pra ouvir quem tá do seu lado?
Essas perguntas não são pra gerar cobrança. São um convite à autorreflexão — individual e coletiva. Porque só quando a gente se olha com sinceridade, consegue construir relações de trabalho mais saudáveis.
Ambiente emocionalmente seguro não se pinta de amarelo. Se constrói.
Muito se fala de segurança psicológica. Mas pouco se vive. Segurança emocional não nasce de uma fala bonita no onboarding, ou de um slide no PPT da liderança. Ela nasce no dia a dia, quando alguém escuta de verdade, quando você sabe que pode errar sem ser exposto, quando você não precisa sorrir fingindo que está tudo bem.
No trabalho remoto, isso fica ainda mais delicado. A gente nem sempre vê os sinais. Às vezes, a pessoa do outro lado da tela está no limite, e a gente nem imagina.
Como saber se alguém está bem, se a gente não pergunta com presença?
Como acolher se ainda insistimos em separar o “pessoal” do “profissional”, como se fôssemos seres divididos?
A verdade é que não existe esse “dentro ou fora do trabalho”. A gente carrega tudo junto. Porque somos humanos, inteiros, plurais e cheios de fases.
Menos discurso, mais prática.
Esse texto não é um manifesto. É um lembrete.
Um lembrete pra gente falar menos sobre saúde mental, e praticar mais:
- Observar mais, julgar menos.
- Perguntar de verdade, e não só “tudo bem?” automático.
- Criar pausas reais, e não só “benefícios” que ninguém usa.
- Conhecer quem está do nosso lado. Ou do outro lado da tela.
A dor pode não estar no comportamento. Mas talvez esteja na posição.
Nem sempre uma baixa performance é falta de competência. Às vezes, é desalinhamento.
Quantas vezes colocamos uma pessoa criativa, cheia de ideias e comunicação fluida, num cargo técnico e isolado? Aí achamos que ela não está “entregando” e cogitamos desligar. Quando talvez o certo fosse realocar.
Pessoas certas, em lugares errados, adoecem em silêncio.
Realocar, ouvir e entender pode ser mais eficaz (e mais humano) do que substituir.
Pra fechar, algumas perguntas sinceras:
- Você conhece mesmo as pessoas do seu time?
- Seu ambiente de trabalho permite que alguém diga “hoje não estou bem”?
- Sua empresa tem práticas contínuas de cuidado ou ações pontuais de setembro?
- Você lidera com empatia real ou com discurso pronto?
- E você, se sente bem de verdade no lugar onde está?
Setembro Amarelo passa. Mas o cuidado precisa ficar.
Que a gente não espere mais um ano, ou mais um mês “temático”, pra cuidar de quem está com a gente. Que a gente olhe pra saúde emocional como parte da estratégia, da cultura e, acima de tudo, da humanidade no trabalho.
Vamos começar agora?