Quem circula pelo ecossistema já percebeu um contraste: nas capitais, há empresas disputando palcos para contar seus casos de sucesso (quase sempre as mesmas). São nomes que já entenderam o valor da visibilidade e que se repetem em painéis, artigos e prêmios. E estão certas: dar voz às próprias práticas faz parte do processo de inovação.
No interior, por outro lado, vemos belos casos de transformação em fábricas, serviços e cooperativas, mas poucas empresas dispostas a compartilhar. Os motivos se repetem: receio de não parecer “inovadora o suficiente”, medo da exposição, sigilo competitivo ou simplesmente a falta de tempo para organizar aprendizados em forma de história.
Nos últimos meses, rodei eventos em formatos distintos: alguns mais acadêmicos e políticos; outros, mão na massa, com empresas já habituadas a falar de suas práticas. E um padrão ficou claro: há muita organização fazendo coisas boas, mas pouca topando mostrar o caminho.
Mas por que isso importa para quem está começando? Porque histórias reais reduzem o risco percebido. Um case local de melhoria de processo, um piloto com cliente, ou até um fracasso honesto que virou aprendizado encurtam a curva de quem vem atrás. Fora dos grandes centros, onde as referências são mais escassas, cada case público vale por um curso inteiro. São histórias que mostram, na prática, que inovar não é privilégio das capitais.
Antes de encerrar, um ponto que não pode ficar de fora e que talvez tenha um texto dedicado à este ponto: ainda são poucas as mulheres que assumem esse protagonismo da vitrine. Em diferentes levantamentos, os percentuais variam: cerca de 19% das startups têm mulheres entre as fundadoras, em outras bases esse número chega a 30%.
Seja 19 ou 30, ainda é pouco. Isso impacta quem sobe aos palcos e quem é reconhecido como referência.
Se queremos um ecossistema forte, precisamos de mais empresas mostrando seus bastidores e de mais mulheres ocupando esse espaço de visibilidade. Trazer essas vozes à tona é o que mantém o ambiente vivo, diverso e inspirador. A falta de representatividade não deve ser motivo para desânimo, mas um chamado à ocupação consciente.