Antigamente, as pessoas se afastavam em silêncio.
A gente mudava de escola, trocava de bairro, encerrava um ciclo e, com o tempo, perdia contato.
O fim das relações era mais sutil. Não havia anúncio. Não havia like.
Hoje, vivemos o oposto: fazemos “amigos” em segundos e em segundos, também, somos excluídos.
Um clique. Um deixar de seguir. Um silêncio que vira grito interno.
Para quem é sensível, isso não soa como liberdade de escolha. Soa como rejeição.
E esse é o ponto onde a infância bate à porta.
A ferida da rejeição é invisível, mas molda trajetórias.
Ela nasce quando, ainda criança, sentimos que não fomos vistos.
Não por falta de amor, muitas vezes, mas por falta de presença, de acolhimento emocional, de segurança interna ao redor.
E então crescemos.
Com dificuldade de confiar, de pertencer, de sustentar relações.
Adolescência com amizades frágeis. Vida adulta com vínculos instáveis. Uma sensação constante de que algo em nós não é suficiente.
A verdade é que seguimos meio remendados.
Trocando de pele, mas carregando as mesmas dores.
Enquanto essa ferida não for olhada com coragem e consciência, ela seguirá se repetindo.
Outras pessoas, mesmos gatilhos.
Outros cenários, mesma dor.
Mas a dor não é inimiga.
Ela é chamado.
Chama para reescrevermos nossa história.
Para nos resgatarmos no ponto exato onde deixamos de nos sentir pertencentes.
Rejeição dói.
Mas também revela o quanto estamos prontos para parar de mendigar amor, e começar a nos escolher.
E talvez seja justamente isso que um “unfollow” tenta nos lembrar: que a validação nunca esteve na tela. Sempre esteve dentro de nós.