Fim de ano costuma ter esse efeito curioso de nos fazer desacelerar, mudar o cenário e, quase sem perceber, também mudar o tipo de conversa. Passei o Natal no interior do RS e veio novamente uma pergunta simples e, ao mesmo tempo, desafiadora: afinal, com o que tu trabalhas?
Para quem atua com inovação e transformação institucional, responder a essa pergunta não é trivial. Não se trata de uma profissão que caiba facilmente em um rótulo, nem de algo que se explique apenas com um cargo ou uma sigla. Costumo dizer que trabalho ajudando organizações a se transformarem, aproximando instituições que já encontraram caminhos para inovar daquelas que ainda estão buscando como começar.
Vale muito a pena escolher com cuidado as palavras para contar o que a gente faz. Explicar sem empobrecer, dar exemplos sem reduzir e evitar sair pela tangente. Esse esforço ajuda a aproximar a pauta da inovação da vida real, seja em uma reunião de trabalho ou em uma conversa despretensiosa na mesa da virada de ano.
Alguns lugares ajudam nessa explicação justamente porque já se tornaram referências quando o assunto é inovação. O Tecnopuc e o Instituto Caldeira, em Porto Alegre, ou o Porto Digital, em Recife, são bons exemplos disso. Não por uma iniciativa específica, mas pelo que representam ao longo do tempo como ambientes onde a colaboração é intencional, diferentes atores convivem e fazer diferente passou a fazer parte da cultura.
Essas referências tornam a conversa menos abstrata porque mostram que a transformação acontece quando há articulação e visão de longo prazo. Também reforçam que os melhores resultados surgem quando pessoas e instituições estão dispostas a sair da lógica do isolamento e atuar de forma coordenada.
Especialmente no setor público, a transformação real não começa na tecnologia. Ela começa nas pessoas que se dispõem a olhar para fora da rotina, questionar o “sempre foi assim” e investir tempo em entender como outros chegaram a resultados diferentes a partir de novas escolhas.
Inovar não tem a ver com modismos ou com o uso excessivo de jargões sofisticados. Tem a ver com escuta, curiosidade e coragem para rever práticas que já não respondem à complexidade dos desafios atuais.
Ao encerrar mais um ano, fica um desejo simples e necessário para 2026: que a gente consiga simplificar o vocabulário sem simplificar demais a realidade, ouvindo as perguntas com empatia e transmitindo com clareza que inovação é gerar impacto real, aprendizado coletivo e transformação que permanece nas instituições.
Tim-tim 🥂

