Fui convidada a atuar como advisor em uma startup com cinco anos de atuação no mercado de impacto social. Para mim, foi um presente. Neste curto tempo, mergulhei em legislações, participei de capacitações e eventos, e, acima de tudo, descobri um universo que desconhecia: o das Pessoas com Deficiência (PcD).
O que comecei a entender é que, ao nos colocarmos como alunos, e não como especialistas, nosso mundo se amplia. E essa jornada me fez perceber o quanto ainda precisamos falar sobre inclusão, não apenas como uma obrigação legal, mas como uma questão de humanidade.
O Despertar para um Mundo Invisível
No Brasil, 14,4 milhões de pessoas vivem com deficiência (Gov.com). Um número que, por si só, deveria nos alertar sobre a urgência de olhar para essa realidade com mais atenção. Mas, ao conviver com esse universo, percebi que a falta de informação e empatia ainda é um divisor de águas.
Durante reuniões com a startup, ouvi histórias que me impactaram muito. Uma delas veio de uma profissional de uma grande corporação, mãe de uma criança com autismo. Ela contou que já ouviu inúmeras vezes: “Seu filho não aparenta ter autismo.” Como assim? É para aparentar? Será que a sociedade espera que a deficiência se esconda para ser aceita?
Outro relato me fez refletir: um arquiteto que recusou modificar um projeto para garantir acessibilidade a cadeirantes, alegando que isso prejudicaria o “visual” do espaço. E, infelizmente, histórias como essa são comuns.
A Perversidade do “Normal”
Comecei a notar como alguns comportamentos são repetitivos. Ao se referir ao público identificando PcD ou não, ouvi muitas vezes a seleção de que pessoa é normal. Como assim? Então o que resta é pensar que “A pessoa com Deficiência é anormal? A pergunta é cruel, mas revela um preconceito arraigado: a ideia de que a deficiência é algo “anormal”.
Essa lógica está embutida no nosso dia a dia. Chamamos pessoas de baixa estatura de “anãs”, ignoramos barreiras arquitetônicas, e até mesmo em ambientes corporativos, muitas vezes, vemos a inclusão tratada como um “custo” e não como um direito.
O Desafio da Inteligência de Negócio
A inteligência de negócio não se limita a números e projeções. Ela exige que olhemos para todas as esferas e, nesse contexto, a acessibilidade e a inclusão são temas que precisam ser priorizados, sendo incluídos na estratégia da empresa.
Empresas que ignoram essa pauta não apenas se expõem a riscos legais (como a Lei 13.146/2015, que garante direitos às PcD), mas também perdem a oportunidade de construir um mundo mais justo. Afinal, inclusão não é caridade. É inovação.
Por Que Isso Importa para Nós?
1 Mercado em Potencial: As PcD representam um universo de consumidores, colaboradores e inovadores que muitas empresas ainda não engajaram.
2 Responsabilidade Social: Negócios que se comprometem com a inclusão fortalecem sua reputação e atraem talentos alinhados a valores éticos.
3 Humanização: Quando olhamos para a realidade das PcD, aprendemos a enxergar com mais empatia, e essa perspectiva transforma não apenas as empresas, mas também a sociedade.
A minha jornada como advisor nesta startup, me mostrou que a mudança começa com pequenos passos:
- Treinar equipes para entenderem as necessidades das PcD.
- Revisar projetos arquitetônicos para garantir acessibilidade.
- Incluir a pauta de inclusão em decisões estratégicas, não apenas em relatórios de ESG.
- Ter intérprete de libras nas reuniões para que todos tenham acesso. Sejam eles capacitados na empresa, sendo está uma ótima prática, sejam eles contratados para participar de reuniões e disponibilizar a informação a todas as pessoas..
Mas, acima de tudo, precisamos questionar nossos próprios preconceitos. Se você já ouviu alguém dizer que “a pessoa com deficiência não parece ter isso”, ou se já viu alguém ser desrespeitado por não se encaixar em padrões tradicionais, é hora de parar e refletir: quem está sendo excluído? E por quê?
A Inclusão Começa Aqui e Agora
A startup em que atuo me ensinou que negócio com propósito não é apenas um slogan. É um compromisso com a transformação. E, nesse caminho, a inclusão não pode ser uma pauta secundária.
Quando olhamos para as 14,4 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, vemos não apenas um desafio, mas uma oportunidade: construir um mundo onde todos tenham espaço para crescer, contribuir e ser vistos com respeito.
A lei de cotas é fundamental, ela obriga as organizações a fazerem contratações de pessoas com deficiência. Mas a grande questão que ainda paira é que tipo de vaga está sendo dada como oportunidade? Infelizmente a grande maioria destas vagas é para serviços gerais ou muito operacionais. São poucas que abrem para vagas de gestão, de coordenação de times, para líderes.
Outro grande aprendizado que tive, foi que enquanto estas pessoas PcD não estão trabalhando, elas estão em suas casas se capacitando. Então, temos mestres e doutores preparados para ocupar cargos de alto nível nas organizações, mas as vagas não existem para elas. Aí vem o capacitismo e isso é pauta para uma outra longa conversa.
E a pergunta que deixo para você:
👉 “Seu negócio está preparado para construir um futuro onde todos tenham espaço, ou está acostumado a construir um mundo que deixa alguém para trás?”

