Se 2018 ficou marcado como o ano da maior e mais desafiadora crise já enfrentada pela líder brasileira em personalização automotiva Keko Acessórios nas suas quase quatro décadas de existência, 2025 entra para a história da companhia como o ano de celebrar um dos seus maiores feitos: a saída do processo de Recuperação Judicial (RJ) deflagrado em setembro de 2018, quando precisou recorrer à medida para renegociar dívidas que alcançavam R$ 75,5 milhões.
Com sede em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha, a Keko é uma empresa familiar que nasceu em 1986, fruto do espírito visionário do empreendedor Leandro Scheer Mantovani e seu pai Henri Mantovani, que enxergaram potencial para o mercado de personalização de picapes e veículos leves no Brasil. Nestes quase 40 anos, a empresa se consolidou na liderança do segmento no Brasil e América Latina, fabricando peças e acessórios para atender as grandes montadoras mundiais de veículos, o varejo e as exportações. Atualmente, a marca é reconhecida em mais de 45 países nos cinco continentes e fornece para 12 montadoras.
A empresa sempre foi operacionalmente saudável e vinha em um ritmo de crescimento médio de 20% ao ano. Em 2009, iniciou o projeto de um grande investimento em uma planta fabril modelo na cidade de Flores da Cunha/RS. Somado a novas tecnologias e inovação em produtos, o investimento chegou a R$ 100 milhões ao longo dos seis anos seguintes – a maior parte financiado. Esse aporte de recursos estava planejado para acompanhar o modelo de crescimento do negócio, no entanto o custo do endividamento teve um salto com o avanço da taxa Selic de 7,5% para 14,5% no período. De 2015 a 2018, a Keko fez diversas tentativas de negociações coletivas com os bancos tendo auxílio de renomadas consultorias Big Four como a KPMG, sem êxito.
Com isso, a empresa foi ficando bastante pressionada. A greve dos caminhoneiros, em 2018, agravou ainda mais os problemas. A gota d´água foi o cancelamento de um projeto com uma montadora, que resultou em uma redução de receita de R$ 20 milhões. “Esse fato culminou na decisão estratégica de entrar com a medida jurídica de recuperação”, recorda o presidente executivo Leandro Scheer Mantovani. O empresário destaca a conduta que a Keko tomou a partir desta decisão, utilizando transparência com todos os stakeholders. “Nossa preocupação foi conversar primeiro com todos os 420 funcionários que estavam conosco na época, para reforçar nosso compromisso com o cumprimento das obrigações, o pagamento de salários e a preservação dos empregos. Também visitamos e conversamos pessoalmente com clientes e fornecedores estratégicos. Isso foi primordial para restabelecer os acordos e, apesar de termos entrado em RJ, não perdemos a credibilidade e a confiança do mercado”, afirma.
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Como a Keko arrumou a casa e saiu da crise
Desde 2015, a empresa opera com a “sala de crise” e ela foi essencial durante o processo de recuperação. Apoiada por outros mecanismos, não só ajudou a buscar soluções para os problemas críticos e superar os desafios, como também auxiliou para que a Keko chegasse bem e fortalecida em períodos conturbados como a pandemia do Covid-19, deflagrada em 2020, e a enchente no RS, em maio de 2024.
Uma das primeiras medidas adotadas na recuperação foi implantar uma gestão mais horizontalizada. A retirada de camadas de gestão aproximou o comando da empresa, o que deu agilidade e velocidade nas decisões e nos processos. A gestão começou a participar do ‘guemba’, ferramenta do Lean Manufacturing que significa ‘onde as coisas acontecem na empresa’. Paralelo a essa medida, foram implementadas melhorias internas com a reestruturação e o enxugamento dos projetos e processos internos, o que também contribuiu para dar mais agilidade e velocidade à produção e a todo negócio.
Outra frente de trabalho foi a inovação, área em que a Keko fez um movimento grande para restabelecer projetos e promover a qualificação do mix de produtos. O foco passou a ser lançamentos de acessórios diferenciados e com alto valor agregado, que ajudaram a alavancar o crescimento. Nos últimos dois anos, houve inúmeros lançamentos expressivos no segmento de picapes e a Keko conseguiu acompanhar esse processo de renovação do mercado e ganhar vários desses projetos junto às montadoras. Investimentos em automações e tecnologias, reorganização mercadológica com a reestruturação da força de vendas potencializando os diversos canais (montadoras, varejo e exportações) e a retomada mais recente dos investimentos em marketing fazem parte das ações da companhia para arrumar a casa.
Outra medida austera foi a implantação de um planejamento financeiro e tributário, o que possibilitou transformar 80% da dívida de curto prazo para o longo prazo. “Todas essas iniciativas foram determinantes para tornar a empresa mais competitiva e mais saudável. Conseguimos atingir mais volume e, com isso, os custos fixos foram diluídos e, assim, alcançamos o ponto de equilíbrio financeiro. Aprendemos a operar com sustentabilidade financeira nos últimos cinco anos”, afirma Lucas Bertuol, gerente administrativo-financeiro.
Na Pandemia de Covid-19, a Keko também aprendeu outra importante lição: descobriu o mercado virtual e as vantagens de atuar neste canal. Ter presença forte no digital aumentou a proximidade da marca com os consumidores finais, fazendo com que eles buscassem, inclusive, os produtos Keko nas lojas físicas. Com isso, intensificou-se o pós-venda e o prolongamento da vida útil dos produtos, o que contribui e impacta na sustentabilidade do planeta. Esse movimento contribuiu para a retomada da marca própria, que hoje representa 25% da receita no mercado interno e nas exportações.
Para cumprir com o Plano de Recuperação Judicial, a companhia apostou muito nos seus recursos humanos internos. Os 420 profissionais remanescentes trabalharam com comprometimento, disciplina e constância, dando o seu melhor para consolidar o projeto de recuperação. O presidente executivo reforça que a RJ teve o seu ponto positivo, que foi provocar e promover o amadurecimento de toda a empresa. “Foi uma jornada de valorização, transformação e crescimento da equipe. As pessoas aprenderam a trabalhar na escassez e a focar em resultados, o que foi muito positivo e uniu mais o grupo”, avalia.
Caminhos para voltar a crescer
Desde 2021, a Keko vem superando os resultados planejados. Somente no último ano, cresceu 25% e nos últimos quatro mais do que dobrou de tamanho. Durante o período de recuperação, que se estendeu por pouco mais de seis anos, a companhia cresceu 170%. O faturamento, que beirava os R$ 130 milhões em 2018, deve chegar a R$ 360 milhões em 2025 – crescimento de 8% sobre o último exercício. O número de funcionários também aumentou, chegando hoje próximo a 500 empregos diretos. A empresa conseguiu renegociar o endividamento para o longo prazo e, com o crescimento e resultado, finalizou 2024 com uma relação dívida EBTDA de 2,4x.
No biênio 2024/2025, estão previstos investimentos na ordem de R$ 30 milhões, alocados na ampliação da estrutura fabril, que ganhará mais 3,5 mil m² de área construída que se somarão aos atuais 25 mil m², e na aquisição de novos equipamentos e tecnologias, como laser tubo, laser chapa, prensa, dobradoras e centro de usinagem, entre outros.
Para manter o ritmo de crescimento orgânico e sustentar os projetos traçados para o futuro, a Keko vai continuar se reestruturando, investindo em melhorias, em processos, produtos, tecnologias e nas pessoas, com o objetivo de ser um player cada vez mais competitivo no mercado global. O crescimento continuará sendo pautado e sustentado pelas práticas de ESG (ambiental, social e governança). “Para nós, essas práticas sempre foram convicção, desde o início da Keko, mesmo quando a ESG ainda não era um conceito e tão difundida como é hoje”, destaca Mantovani.
Sobre a Keko Acessórios
Fundada há 38 anos, na Serra Gaúcha, a Keko é líder brasileira em acessórios para personalização de veículos. Precursora de tendências em seu segmento, consolidou-se no mercado automotivo pelo pioneirismo, inovação, design, tecnologia e qualidade dos produtos. A marca é reconhecida em mais de 45 países nos cinco continentes e fornece para grandes montadoras mundiais, além do varejo. O mix de produtos Keko inclui capotas rígidas retráteis e marítimas, estribos, estribos elétricos, engates de reboque, santantônios, grades do vidro traseiro, travessas e itens utilitários. Em 2011, quando completou 25 anos, a companhia transferiu-se para um moderno parque industrial com 25 mil m² de área construída, em Flores da Cunha (RS). Projetada com modernos conceitos de sustentabilidade e compromisso social, a estrutura foi planejada dentro das práticas e conceitos ESG para atender os planos de crescimento da empresa e as demandas do setor automotivo, posicionando a Keko no padrão de qualidade e competitividade dos grandes players globais do mercado automotivo.