Toda comunidade carrega desafios que, muitas vezes, passam despercebidos até por quem vive ali. Mas, quando jovens são convidados a enxergá-los e a imaginar soluções possíveis, problemas viram ideias, e ideias viram projetos. Assim nasceu o Pense Jovem, iniciativa da Sicredi Caminho das Águas que mobilizou escolas, inspirou lideranças e mostrou que a inovação pode (e deve) começar pela realidade local.
De acordo com o gerente de Cooperativismo da Sicredi Caminho das Águas, Eduardo Glaeser, a ideia surgiu durante um encontro nacional de cooperativismo voltado à inovação, realizado em Goiás. “Vimos muitas iniciativas voltadas para jovens. Voltamos pensando no que poderíamos fazer para que eles desenvolvessem soluções para os problemas das próprias comunidades”.
Dessa inquietação nasceu o programa, financiado pelo Fundo Social do Sescoop, braço educacional do Sistema Ocergs. A cooperativa planejou mobilizar estudantes dos 26 municípios de sua área de atuação. Dos 170 jovens inscritos, 36 chegaram à grande final, realizada no último sábado, 29, durante o Hackatime, no Fly.Hub, em Sapiranga. “Os jovens apresentaram o resumo de tudo o que desenvolveram ao longo do programa, que envolveu oficinas, mentorias e etapas de construção de MVPs”, explica Glaeser.
Para ele, o grande diferencial do Pense Jovem é a conexão direta com as comunidades. “Muitas vezes achamos que a dor é uma, mas quando ouvimos a comunidade percebemos que é outra totalmente diferente. O programa faz essas dores aflorarem”.

Projeto vencedor resgata cultura quilombola
O primeiro lugar do Pense Jovem ficou com o Projeto Sementes Vivas – preservação do território, memória e cultura quilombola, apresentado pelas estudantes Amanda Garcia Pietsch, Luana Marques Bandas e Victoria Conceição Ferraz de Oliveira.
Victoria conta que, embora o Rio Grande do Sul tenha uma estimativa de 20 mil famílias quilombolas, a maioria não é oficialmente reconhecida e grande parte da cultura local se perde silenciosamente. “É uma cultura rica e importante para o Brasil. Mas ninguém comenta, ninguém trabalha esse assunto. Queríamos trazer visibilidade para algo que já existe e não é valorizado”.
Em parceria com a Associação Quilombola Costa da Lagoa, o grupo, que reuniu integrantes de Capivari do Sul, Palmares do Sul e Viamão, estruturou um plano baseado em quatro pilares: organizar, capacitar, executar e avaliar. As ações incluem trilhas educativas, oficinas culturais, atividades escolares e iniciativas voltadas ao turismo responsável. O impacto esperado envolve reduzir preconceitos, ampliar conhecimento sobre a cultura quilombola e aproximar escolas e visitantes da história do território. A maior barreira, porém, está na infraestrutura, hoje considerada precária, o que leva a equipe a buscar parcerias e até planejar feiras culturais com comidas típicas e artesanato para angariar recursos.
Victoria destaca que a equipe pretende seguir com o projeto, fortalecendo o vínculo com a comunidade. “As gurias foram parceiras ótimas. Queremos envolver mais gente para ajudar”.

Apoio na carreira
O segundo lugar ficou com o projeto Directions, iniciativa criada para enfrentar uma dor comum entre jovens brasileiros: a dificuldade de escolher uma carreira em meio às mais de 12 mil profissões existentes. O projeto propõe uma ponte entre estudantes indecisos e empresas que sofrem com a falta de profissionais qualificados, oferecendo palestras, visitas a ambientes de trabalho e conteúdos baseados em projeto de vida e filosofia.
A ideia é que as empresas financiem especialistas para apresentar diferentes trajetórias profissionais, enquanto os jovens ganham clareza sobre caminhos possíveis. Em pesquisas realizadas pelo próprio grupo, embora 82% dos colegas afirmem saber o que querem fazer no futuro, apenas 52% dizem saber qual caminho seguir, um dado que reforça a relevância do projeto. Modular e adaptável às demandas de cada região, o Directions também disponibilizaria conteúdos gravados de forma gratuita, contribuindo para uma geração mais preparada para o mercado e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ajuda Imediata
O terceiro lugar ficou com o projeto Ajuda Imediata, que propõe a capacitação em primeiros socorros nas 14 escolas públicas da cidade de Igrejinha. A iniciativa busca solucionar a falta de preparo da comunidade para lidar com emergências através de cursos extensivos ministrados por especialistas, diferenciando-se pela complexidade do conteúdo abordado. Com a busca de apoio da prefeitura para implementação, o objetivo quer preparar os cidadãos para prestar socorro inicial em situações críticas, como convulsões e engasgos, garantindo a segurança da vítima até a chegada do atendimento médico especializado.
Menções honrosas
Viva Melhor: cuidado com os idosos
Entre as menções honrosas, o Viva Melhor, de Mostardas, apresentou uma solução para um problema silencioso: o abandono e a invisibilidade da população idosa. Dados do IBGE mostram que dois idosos são abandonados por dia no Brasil, que registrou 700 casos formais em 2024, além de 20 mil idosos em situação de rua. O projeto propõe oficinas, eventos culturais e visitas domiciliares feitas por profissionais contratados pelo município, oferecendo desde conversa e companhia até apoio emocional e cuidados básicos.
Um Olhar para a Rua: combate à fome
Sob o lema “a solidariedade que oferecemos hoje pode ser o recomeço de alguém amanhã”, o projeto Um Olhar para a Rua apresentou uma iniciativa que une culinária e empatia para combater a insegurança alimentar. A proposta busca apoiar pessoas em situação de rua, famílias de baixa renda e vítimas de desastres, como os recentes incêndios, por meio de parcerias com restaurantes para doação de marmitas. Alinhado ao ODS 2 (Fome Zero), o projeto foca nos grupos mais vulneráveis da sociedade.

