Num cenário em que a concorrência opera em altíssima escala e o consumidor é cada vez mais imediatista, o pequeno e médio varejo brasileiro precisa urgentemente se reconectar com a realidade do seu cliente. As vitrines continuam existindo, a diferença é que agora, elas funcionam 24 horas por dia.
Atualmente, as redes sociais representam o principal ponto de contato entre empresas e clientes no Brasil, com destaque para WhatsApp e Instagram. Antes de efetuar uma compra, os consumidores tendem a pesquisar nas redes sociais, visualizar vitrines digitais no Instagram, consultar avaliações no Google e esperam respostas ágeis via WhatsApp. No país, 99% dos smartphones possuem o aplicativo instalado, sendo utilizado diariamente por 94% dos usuários. Além disso, 76% dos consumidores preferem interagir com empresas por meio de mensagens instantâneas. Isso evidencia que a jornada de compra frequentemente se inicia e se encerra nesses canais, inclusive para negócios que oferecem serviços, experiências ou cursos online.
Nesse cenário, não se trata apenas de marcar presença digital, mas de entender como o cliente te encontra, com que linguagem se conecta e qual dor você resolve. É nesse ponto que a inteligência artificial entra em cena, não como mais uma ferramenta, mas como um diferencial competitivo que acelera processos, integra dados e entrega o que o consumidor espera: personalização, agilidade e relevância.
Segundo uma pesquisa do Opinion Box¹, 88% dos consumidores compram online, e conforme a pesquisa da Octadesk², 53% fazem isso à noite ou de madrugada. Isso significa que, mesmo dormindo, o varejista precisa vender. E o canal mais utilizado no país para isso não é nenhuma grande plataforma estrangeira, mas sim o WhatsApp.
De acordo com o mesmo estudo, 37% dos consumidores consideram o WhatsApp o canal preferido de atendimento, seguido por chat no site e redes sociais. Mas atenção: apesar do avanço da automação, o uso de robôs ainda está longe da excelência. Embora 86% dos consumidores já tenham interagido com bots, apenas 22% consideram a experiência boa. Aqui, entra uma lição essencial: mais importante do que automatizar é personalizar e a IA pode (e deve) fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
De Ferramenta a Estratégia
O ponto central não é temer a IA, mas assumir o protagonismo no uso dela. E aqui é essencial fazer uma distinção que muda o jogo: Usar IA não é o mesmo que implementar IA.
Usar inteligência artificial é recorrer a uma ferramenta para resolver algo pontual, como gerar uma legenda para o Instagram ou ajudar a responder um cliente no WhatsApp. Isso é útil, mas não transforma o negócio.
Implementar IA, por outro lado, é colocar essa tecnologia dentro da operação. É integrar sistemas, conectar dados de clientes, vendas e estoques, automatizar processos e criar fluxos que aprendem com o comportamento do consumidor. Só assim a IA deixa de ser um truque e passa a ser um motor de crescimento.
Um exemplo claro disso é o uso de plataformas como o Manychat, que automatiza o atendimento via Instagram e WhatsApp. Não se trata apenas de ter um robô respondendo perguntas. A ferramenta coleta dados de comportamento do usuário, aprende padrões, e adapta as respostas em tempo real, criando um atendimento que se molda ao perfil de cada cliente — do envio de cupons personalizados ao disparo automático de links de pagamento. Aqui, a IA deixa de ser um recurso pontual e passa a ser um motor invisível de conversão e engajamento.
O mesmo raciocínio se aplica à gestão do seu negócio. A implementação de sistemas como o Olist ERP, por exemplo, conecta o controle de estoque com múltiplos canais de venda, automatiza a atualização de pedidos e fretes, e alerta para situações críticas como baixo estoque. O empreendedor não precisa mais operar no escuro: a IA trabalha nos bastidores, integrando dados e acelerando decisões com base em informações reais e atualizadas. Isso gera agilidade, economia e precisão, três ativos valiosos no varejo.
Esses exemplos nos mostram que hiperpersonalização, automação e inteligência operacional não são mais luxos acessíveis apenas a grandes corporações. São realidades possíveis e, mais do que isso, necessárias para os pequenos e médios negócios que desejam permanecer relevantes em um mercado cada vez mais exigente.
Oportunidades Reais Para Pequenos Negócios
Mesmo negócios de pequeno porte já conseguem aplicar soluções simples e eficazes com IA. A análise de dados, por exemplo, não exige um time de cientistas. Hoje, com ferramentas acessíveis como o ChatGPT, o Excel com Copilot ou até o Power BI, o lojista consegue identificar:
- – Quais produtos têm maior saída em determinados dias ou horários.
- – Quais clientes estão há mais tempo sem comprar.
- – Quais canais trazem mais retorno por campanha.
Com isso, o empresário deixa de operar na intuição e passa a tomar decisões baseadas em evidência.
Outro exemplo prático é o uso da IA generativa para criação de conteúdo sob demanda. Ao invés de terceirizar uma legenda por semana, o empreendedor pode gerar 30 ideias de posts, alinhadas com o calendário promocional, tom de voz da marca e interesses do público — tudo isso com apoio de ferramentas acessíveis como o Canva IA e outras, muitas vezes gratuitas.
E se a dúvida for sobre como vender produtos “intangíveis”, como cursos ou serviços, a resposta está na construção de narrativas de valor. A IA pode apoiar na pesquisa de dores do público-alvo, na estruturação de mensagens persuasivas e até na simulação de jornadas de compra. O foco deve estar em como comunicar o benefício transformador do serviço e não apenas suas características. Para isso a Perplexity AI será uma ótima aliada.
Protagonismo Digital: o que isso significa?
A transformação digital não é sobre substituir pessoas por tecnologia, mas sobre libertá- las do operacional para que possam pensar estrategicamente. E isso vale tanto para o dono do negócio quanto para sua equipe.
Quando o varejo entende que seu cliente mudou — e muda o tempo todo — ele começa a se perguntar:
“O que ainda estou fazendo como sempre fiz?”
Essa é uma das perguntas mais poderosas que a inteligência artificial pode nos ajudar a responder. Afinal, não se trata de usar IA para vender mais — mas de implementar IA para vender melhor, com mais eficiência, mais inteligência e mais conexão com o cliente.
Portanto, se queremos colocar a IA para trabalhar a favor do nosso negócio, precisamos ir além do uso superficial e buscar implementações que integrem dados, otimizem rotinas e entreguem valor em escala. É nesse ponto que a IA deixa de ser apenas uma promessa futurista e se torna uma parceira estratégica do crescimento.
Referências