Entrar nesse universo de investimentos em startups é descobrir que existe muito mais do que a gente imagina, e que tudo muda o tempo todo. São novas nomenclaturas, novas formas de investimentos e de formatos de fundos, com mais estratégias, mais termos em inglês que se multiplicam a cada rodada, edital ou acordo multilateral.
Como nova colunista do starten.tech, minha missão é estrear trazendo um panorama realista e didático para quem está dentro ou à beira desse ecossistema. Porque se tem uma coisa que 2025 nos mostrou, é que os modelos de investimento não param de evoluir, e entender como tudo se conecta virou parte essencial do jogo.

2025 é o ano da reorganização dos fluxos
Depois do baque de 2022 e da correção natural de 2023, seguido de um 2024 como um dos anos de mais pontos de inflexão nos investimentos, 2025 está mostrando que o capital voltou, porém mais seletivo, mais distribuído e com estruturas mais diversas. Não estamos mais falando apenas de VC tradicionais: há uma camada híbrida se consolidando entre micro fundos e diversos outros modelos alternativos.
E seguindo esse novo cenário, de acordo com a Latin American Private Capital Association (LAVCA), a América Latina captou US$ 4,5 bilhões em investimentos de Venture Capital até julho de 2025, sendo que o México já ultrapassou o Brasil em algumas rodadas em volume, graças à força dos CVCs e à organização logística do país.
Mas não se engane: o Brasil ainda lidera em número de transações e fundos ativos, com destaque para hubs como São Paulo, Florianópolis, Recife e Porto Alegre. A diferença é que agora não dá mais para falar só em VC, pois o cenário se tornou multipolar e é sobre isso que eu quero falar, com visão de especialistas do ramo e parceiros estratégicos ativos nesse ecossistema.

O alfabeto dos investimentos: desvendando os principais modelos
Venture Builders e Corporate Venture Builders: construindo startups de dentro pra fora
Muita gente ainda confunde aceleradoras com Venture Builders, mas elas são coisas bem diferentes. As Venture Builders são estruturas que criam startups do zero, dentro de casa: elas não investem em uma ideia externa, mas desenvolvem as próprias teses, montam os times, aportam capital e levam essas startups ao mercado. É um modelo onde quem constrói também é sócio e participa ativamente da operação.
Já as Corporate Venture Builders seguem a mesma lógica, mas dentro de grandes empresas, ou seja: ao invés de só adquirir uma startup ou investir via CVC (Corporate Venture Capital), a corporação cria sua própria startup do zero, com apoio de uma unidade interna (ou terceirizada) focada nisso. É a inovação saindo do papel em formato de spin-off, com estratégia, equipe dedicada e liberdade para testar modelos fora do core da empresa.
Grants públicos e editais de subvenção: o dinheiro que não pede equity e muita gente ainda ignora
Enquanto todo mundo olha para rodadas com VC ou investidores-anjo, os programas públicos de fomento seguem sendo uma das fontes mais potentes de capital não-reembolsável para inovação no Brasil, e o melhor: sem exigir participação societária nem interferência na gestão.
Iniciativas como FAPESP, FINEP, Sebrae, Embrapii, BNDES Garagem e FAPESC oferecem desde bolsas para ideação até recursos expressivos para desenvolvimento tecnológico. Em 2025, por exemplo, o programa Centelha 3 vai movimentar mais de R$ 60 milhões em aportes para ideias em fase inicial em diversos estados, com destaque para o Norte e o Nordeste.
Mesmo com todo esse potencial, esse tipo de recurso ainda é subaproveitado por startups que não sabem (ou não conseguem) navegar a lógica dos editais.
Manuela Hermes, gestora de projetos no ELUME e Agente de Inovação pelo programa SC Mais Inovação, vive essa realidade na prática: “Muitas startups se perdem na complexidade ou nem sequer conhecem os caminhos para acessar os editais públicos. Nosso trabalho é atuar como uma ponte, orientando os empreendedores para que se conectem a fontes de fomento essenciais, como a FAPESC e outros programas de incentivo. Este é o recurso que permite a uma startup desenvolver seu MVP, validar a tecnologia e tracionar o negócio sem diluição de capital, chegando muito mais forte e preparada para futuras rodadas de investimento privado”.
Entender esse cenário de forma macro sobre investimentos em startups, vai muito além de acompanhar números de rodadas, tendências ou manchetes sobre quem captou mais ou o M&A inesperado no mercado. É sobre perceber as transformações silenciosas nas estruturas de poder e decisão, onde termos como “fundo híbrido” ou “capital não-reembolsável” carregam muito mais do que jargões, carregam lógicas novas de acesso, de escolha e de impacto.
Quando trago sobre nomenclaturas e novos formatos, não é só aprender um novo glossário, mas em cada termo se esconde uma oportunidade ou uma armadilha, que pode definir o caminho de uma startup, de um fundo, de um investimento ou de um ecossistema inteiro.
O mercado não mente, existe uma América Latina em movimento, fundos mais seletivos, hubs muito mais posicionados, e editais públicos ainda subutilizados. E, no meio disso tudo, vejo um Brasil que continua sendo protagonista, não por sorte, mas por constante reinvenção.
No nosso próximo encontro, te convido a sair da superfície e entrar comigo nas camadas táticas desse jogo: os mecanismos que viabilizam aportes, as novas figuras que estão colocando dinheiro na mesa e, principalmente, como navegar nesse mar de possibilidades sem afundar na falta de clareza.
Porque o mapa ilustrado é ótimo, mas seguir a bússola com estratégia, é o melhor caminho.