No Palco Geek, dedicado à cultura pop, inovação e tecnologia, um dos momentos mais surpreendentes do primeiro dia da Gramado Summit 2025 veio com a astrobióloga Rebeca Gonçalves. Entre memes, ficção científica e ciência de ponta, ela apresentou as descobertas por trás de uma pergunta que parece improvável, mas é extremamente urgente: como plantar tomates em Marte pode ajudar a salvar vidas na Terra?
A resposta envolve décadas de pesquisas espaciais, da agricultura extraterrestre à mineração de asteroides, passando por estufas fora do planeta e uma iniciativa brasileira que já colabora com a NASA para desenvolver agricultura fora da Terra. O objetivo não é só preparar a humanidade para viver fora da Terra, mas também desenvolver soluções concretas para salvar a vida aqui mesmo, no planeta azul.
Inspirada por uma imagem do filme Perdido em Marte, Rebeca instigou a plateia a pensar sobre a possibilidade de cultivar alimentos no planeta vermelho. Ela contou que conduziu, na Universidade de Wageningen (Holanda), um experimento real com uma réplica quase idêntica do solo marciano (que é chamado de regolito), que foi simulado a partir de dados obtidos por robôs enviados pela NASA. O resultado? Tomates, ervilhas e cenouras cultivadas com sucesso em solo semelhante ao de Marte. “Senhoras e senhores, temos tomates marcianos”, brincou a pesquisadora, que é consultora da Agência Espacial Brasileira em missões de Agricultura Espacial.
Rebeca explicou que, desde a década de 1980, mais de 20 espécies de plantas já foram enviadas ao espaço. Recentemente, a China germinou algodão na superfície da Lua, e cientistas testaram sementes em solo lunar original trazido pelas missões Apollo. Agora, o foco é transformar essas descobertas em tecnologias de sobrevivência fora da Terra.
O Brasil também avança nessa corrida. Rebeca integra o Space Farming Brasil, grupo com 50 especialistas em agricultura que atua no desenvolvimento de técnicas para cultivo na Lua. O projeto é parte do compromisso firmado no Acordo Artemis, do qual o país é signatário.
Tecnologia espacial que transforma a Terra
Câmeras digitais, GPS, purificadores de água, próteses e medicamentos. Rebeca contou que muitos itens do cotidiano nasceram a partir de tecnologias criadas originalmente para o setor espacial. “Toda pesquisa que vai para o espaço precisa trazer um benefício concreto para a Terra. Senão, ela nem sai do papel”, destacou.
Um dos experimentos mais promissores citados por Rebeca envolve a cristalização de proteínas em microgravidade, um processo que permite resultados impossíveis de obter na Terra. A pesquisadora citou um estudo recente que indicou que isso pode levar à criação de novos medicamentos para doenças como Alzheimer. “A previsão é que uma farmacêutica monte a primeira fábrica de remédios no espaço”.
Outro ponto abordado pela pesquisadora foi o turismo espacial, que representa 0,1% do setor. “O que move a exploração é ciência, medicina e inovação”, reforçou Rebeca.
Na visão da pesquisadora, a próxima etapa da humanidade é se tornar uma sociedade interplanetária, o que está diretamente ligado à preservação da Terra. “Vamos depender da medicina da Lua, dos recursos do cinturão de asteroides, da cultura pop de Marte. Essa interdependência vai moldar a sociedade do futuro”, comentou uma entusiasmada Rebeca.
Ela encerrou sua fala com o relato de astronautas que veem a Terra do alto e se dão conta de que não há fronteiras, apenas um planeta pequeno e vulnerável. “A gente precisa cuidar melhor da Terra. E talvez o caminho para isso passe por Marte”.