A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa para se tornar uma ferramenta estratégica. E é exatamente esse movimento que a eSales buscou acelerar ao promover seu primeiro hackathon com foco exclusivo em IA. Com dois dias intensos de colaboração entre colaboradores, parceiros e clientes, a empresa aposta em uma abordagem prática: desenvolver protótipos com base em dores reais de mercado, aplicando tecnologias como modelos de linguagem (LLMs), visão computacional, análise preditiva e agentes autônomos.
A primeira etapa do desafio foi realizada nesta sexta-feira, 9, em Porto Alegre/RS. Divididos em 10 grupos multidisciplinares, os participantes encararam desafios extraídos diretamente da rotina de empresas que atuam em áreas como logística, finanças, atendimento e tributação. O objetivo: sair do discurso e mergulhar na construção de soluções funcionais com potencial de escala.
De acordo com o arquiteto de software e especialista em Inteligência Artificial da eSales, Pablo Hadler, a ideia de realizar o hackathon surgiu a partir da necessidade de estimular o uso da inteligência artificial de forma mais ampla e integrada nos produtos e processos da empresa. Ele explica que o evento foi pensado como um catalisador de mudança cultural.
“A gente não vê mais a IA como uma promessa de futuro. Ela já é uma necessidade presente em todas as áreas. Queríamos trazer os times, inclusive de negócios e comercial, para dentro da lógica da IA, para que todos percam o medo e comecem a aplicar essa tecnologia de forma real”.
Aberta a toda a eSales e a clientes estratégicos, a chamada para desafios resultou em 22 propostas, das quais 10 foram selecionadas com base em critérios como aplicabilidade, escalabilidade e impacto. O evento também funcionou como um reencontro: em modelo majoritariamente remoto, os times da puderam se reconectar presencialmente com um propósito comum.
Visão de futuro e foco no cliente
Para o CEO da eSales, Vilson Flores, o hackathon representa uma continuidade da trajetória de transformação tecnológica da empresa, que se aproxima dos 30 anos de história. “Lá em 1995, mandar um arquivo já era um desafio. Hoje, estamos falando em fazer inferências e previsões a partir de dados. É uma mudança rápida e profunda”.
Vilson reforça que a tecnologia precisa estar a serviço do negócio e, principalmente, das dores dos clientes. “Nosso desafio é esse: ajudar nossos clientes a serem mais eficientes. Como eu ajudo meu cliente a ser melhor? A IA entra como meio para isso, nunca como fim”. Ele também destaca a importância de fomentar uma cultura aberta ao erro e à experimentação como caminho para a inovação real.
Cocriação: quando os clientes viram desenvolvedores
Entre os destaques do evento, a participação de representantes de empresas parceiras mostrou que os desafios propostos tinham aderência direta ao cotidiano dos negócios. Foi o caso da Calçados Beira-Rio, que levou um problema concreto à mesa: a dificuldade de identificar SKUs de produtos devolvidos sem etiquetas ou com informações incompletas. “Hoje, esse processo depende do feeling de quem conhece a linha de produção. Pensamos em usar IA com reconhecimento de imagem para automatizar essa tarefa”, explica o head de Dados da empresa, Dioner Seffrin.
O gerente de Orçamento e Planejamento da área comercial, Thiago Bervian, integra um time que encara o desafio de desenvolver um sistema de agentes autônomos voltado ao atendimento. “Queremos criar um chatbot capaz de responder dúvidas sobre duplicatas, produtos e imagens, agilizando o atendimento ao cliente e diminuindo a necessidade de múltiplos redirecionamentos”.
A dupla também destacou a importância do evento como espaço de troca. “Mesmo os desafios que não eram nossos despertaram ideias aplicáveis à Beira-Rio. É um ambiente muito rico”, destaca Bervian.

Do transporte à automação
Outro exemplo de como o hackathon mobiliza quem vive a dor na prática veio da analista de Logística da thyssenkrupp, Evelyn Cantini Dias. Ela participou de um dos times e trouxe um desafio real da área de transportes: o fechamento manual e demorado dos valores de frete. “Orçamos o frete por um valor, mas muitas vezes o custo real é bem maior. Passamos dias tentando entender o porquê. Se conseguimos usar IA para automatizar essa análise, teremos um ganho enorme em tempo e resultado financeiro”, explica Evelyn, que atua diretamente com processos operacionais e melhorias.
Mesmo sem formação técnica em programação, ela se vê confortável no ambiente colaborativo que o hackathon proporciona. “A gente traz a dor, os desenvolvedores trazem o código. É um encontro que faz sentido”, ressalta Evelyn.
IA como ferramenta estratégica
Mais do que seguir uma onda tecnológica, o hackathon da eSales, que segue até sábado, mostra na prática que a inteligência artificial pode, e deve, ser aplicada com foco em resultado. A palavra de ordem não é ‘tecnologia pela tecnologia’, mas sim ‘problema resolvido com eficiência’, como resume o CTO da eSales, Danilo Pimentel. “Tem muita gente vendendo IA. Mas o que resolve mesmo é parar de vender tecnologia e começar a vender a solução de uma dor real. A IA é o meio para chegar lá”.
Ao final dos dois dias, os participantes vão apresentar seus protótipos, pitches e demonstrar como a tecnologia pode acelerar o ritmo dos negócios. Mas, para além das soluções desenvolvidas, o maior legado é a mudança de mentalidade: de que a inteligência artificial já faz parte do presente e que é preciso começar a usá-la, agora.