
Todos os dias recebo dezenas de formulários e links de validação de startups. Às vezes, são para validar um problema. Outras, para entender a receptividade de uma solução, ou para ouvir o que nós, como possíveis usuários, pensamos. Quando sou o público-alvo, respondo com atenção, porque conheço a importância disso no processo de construção de valor.
Mas hoje, me deparei com algo inesperado. Um link de formulário, enviado por uma professora. Um pedido simples: ajudar os alunos do 1º ano do ensino fundamental. Cliquei.
“O que você sabe sobre os sapos?”
Essa era a pergunta de abertura. Uma introdução carinhosa explicava que o questionário havia sido criado pelos alunos do 1ºA, como parte do projeto de pesquisa “O sapo Aroldo”. A ideia era descobrir o que as famílias sabem sobre esses incríveis animais, e aprender mais a partir disso.
Na hora, eu sorri. Era mesmo engraçado. Pensei: será que vou conseguir responder? Eu nem sei muito sobre sapos… Mas essa era justamente a proposta. Entender o que sabemos, como ponto de partida para aprender.
E então preenchi. E saí encantada.
Esse simples exercício, promovido por uma professora do ensino fundamental, é uma lição sobre validação, escuta ativa e liderança para o futuro. Uma atividade que muitos adultos, empreendedores e até grandes empresas ainda não aprenderam a fazer: perguntar.
A Barbie que não parava em pé
Esse episódio me fez lembrar da época em que eu tinha uma loja de brinquedos em um shopping de Porto Alegre. Um detalhe me tirava do sério: as embalagens da Barbie não paravam em pé. Bastava alguém esbarrar para que vinte caixas despencassem da prateleira. A cena parecia uma avalanche de plástico cor-de-rosa.
Eu, como lojista, sabia o quanto isso impactava a experiência do cliente. Imagine uma criança escolhendo uma boneca e, de repente, sendo soterrada por embalagens desajeitadas? Aquilo não era só incômodo, era uma quebra de expectativa em um momento que deveria ser mágico.
O mais curioso é que em todos os anos vendendo aquele produto, nenhuma fábrica me perguntou se havia algum problema. Nenhuma pesquisa. Nenhuma escuta. A embalagem era bonita, mas não funcional. E isso, queira ou não, faz parte do valor da experiência.
O que startups fazem melhor (e que todos deveriam aprender)
Validar hipóteses é rotina em startups. Questionar, testar, medir, adaptar. Antes de lançar, elas perguntam. Antes de escalar, elas escutam. E isso faz toda a diferença entre criar algo bom… e algo que realmente importa.
Na velha economia, escutar o cliente ainda é visto como um diferencial. No novo mercado, é pré-requisito para existir.
Por isso, ao ver uma professora ensinando crianças de 6 anos a criar perguntas, usar formulários digitais e buscar respostas fora da sala de aula, me emocionei. Ela está formando não apenas alunos, mas líderes do futuro. Gente que vai crescer sabendo que, para fazer melhor, é preciso perguntar primeiro. Claro, não vamos entrar no detalhe sobre inovação disruptiva.
Liderar é perguntar
Liderança não nasce apenas de respostas. Ela se constrói na coragem de perguntar. De admitir que não se sabe tudo. De abrir espaço para ouvir o outro, o cliente, o colega, a equipe, a comunidade.
O que aquela professora fez com o “Sapo Aroldo” é mais do que uma atividade lúdica. É um exercício de protagonismo, empatia e inovação. E talvez, sem saber, ela tenha dado uma aula de design centrado no usuário, de validação de hipóteses e de liderança para o século XXI.
Se o mundo ouvisse mais as perguntas das crianças, talvez entregássemos soluções muito melhores para os adultos.