Você já se sentiu parte de algo maior do que você? De um projeto, de um time, de uma cidade em movimento?
Pois é exatamente isso que um ecossistema de inovação representa: um coletivo de pessoas, ideias e organizações tentando, ao mesmo tempo, fazer o novo acontecer e transformar realidades.
Nos últimos anos, tenho participado de diversos eventos, fóruns e projetos voltados à inovação. E, em cada uma dessas experiências, uma pergunta sempre volta com força: qual é o nosso papel no ecossistema de inovação? E, talvez mais importante: como estamos exercendo esse papel, se é que o reconhecemos?
O termo “ecossistema de inovação” se tornou recorrente. Mas muitas vezes o tratamos como um palco onde queremos brilhar, e não como um organismo vivo que exige colaboração, escuta e doação.
Como bem coloca Etienne Wenger, criador do conceito de comunidades de prática: “A construção de significado é inerentemente uma prática social” (Wenger, 1998). Ou seja, conhecimento, inovação e impacto real nascem das relações, não apenas das ideias.
Ideias boas existem aos montes. O que é raro e precioso é o ambiente onde essas ideias ganham espaço, encontram apoio, colidem com outras ideias e viram algo maior do que eram no começo. Esse ambiente tem nome: comunidade. Ou, se preferir, ecossistema.
Mas ele não acontece por decreto. Ele precisa de gente que constrói pontes, que cultiva confiança, que se importa com o coletivo tanto quanto com o individual.
Alain Peyrefitte, em Sociedade de Confiança, mostra como a confiança é o verdadeiro motor do desenvolvimento. Ele compara sociedades que florescem com base na cooperação e na transparência com aquelas onde impera o medo, a desconfiança e o “cada um por si”:
“Sem confiança, não há troca. Sem troca, não há progresso” (Peyrefitte).
Na obra The Power of Pull, John Hagel e John Seely Brown argumentam que, em vez de depender de estruturas hierárquicas, o futuro será moldado por redes de colaboração, onde indivíduos e organizações se conectam por interesses compartilhados e confiança. Essa é a chave: colaboração intencional.
Muitas empresas me perguntam:
“O que eu posso levar daqui? O que posso obter com essa parceria?”
Poucas chegam perguntando: “O que eu posso oferecer?” Essa inversão muda tudo.
Brad Feld, no livro Startup Communities, reforça que ecossistemas sustentáveis nascem quando os participantes se comprometem com o longo prazo e com o valor da colaboração entre pares. Ele propõe que os atores centrais, especialmente os empreendedores, tenham um compromisso mínimo de 20 anos com o desenvolvimento do ecossistema.
“Não há atalhos. Construir comunidades leva tempo, paciência e doação contínua” (Brad Feld). Ou seja, não adianta querer “consumir inovação” como quem passeia num shopping. É preciso participar ativamente: ser mentor, abrir portas, escutar ideias, formar talentos, apoiar iniciativas. Estar por inteiro, mesmo quando os holofotes não estão sobre você.
Qual é o papel que você escolhe exercer?
Nesse ecossistema, há espaço para todo mundo: os que têm ideias novas, os que testam, os que investem, os que formam talentos, os que conectam, os que cuidam. Não existe papel menor. O que existe é gente que ainda não entendeu que pertencer ao ecossistema vai muito além de frequentar eventos ou estar num grupo de WhatsApp.
É sobre se responsabilizar pelo ambiente que estamos ajudando a construir. Como escreve Margaret Wheatley:
“O futuro nasce das conversas que temos hoje e da qualidade dessas conversas”.
Por isso, cada conversa que você inicia, cada colaboração que você oferece, cada espaço que você abre para alguém está moldando o ecossistema ao seu redor, para o bem ou para o ego.
Mas e eu? Quem sou e o que tenho a oferecer para este ecossistema?
Comecei a atuar com inovação e ecossistemas no meio da pandemia, num tempo em que tudo ainda parecia novo e, pra falar a verdade, um pouco assustador para o público com o qual eu trabalhava (e talvez ainda seja).
No início, tímida e ainda entendendo meu lugar naquele espaço, era comum eu me esconder atrás da empresa. Sempre que tinha que me apresentar em um painel ou reunião, dizia apenas: “Sou a Mônica, da empresa tal”.
Até que, um dia, um amigo querido do ecossistema, com aquele sotaque forte e acolhedor de São Borja, me interrompeu no meio de uma apresentação. Com um sorriso e sem rodeios, disse:
“Não, guria. Primeiro teu nome. Teu nome inteiro. Quem tu é vem antes de qualquer história que tu conte.”
Naquele instante, entendi que ocupar espaço não é só sobre estar presente, é sobre estar inteira. Desde então, nunca mais deixei de me apresentar por completo.
Então, aproveito este espaço para fazer isso com vocês:
Me chamo Mônica Bortoli, sou natural de Passo Fundo, mas foi em Porto Alegre que refiz meu caminho profissional e descobri esse mundo vibrante e desafiador da inovação.
Sou administradora, de formação, e especialista em engenharia de produção. Por muito tempo, achei que esse seria o destino da minha jornada. Mas a vida (e o ecossistema) me mostraram que o caminho pode ser bem mais rico quando a gente se permite mudar.
Atuo há 14 anos com indústrias. Hoje, gosto de me definir como uma tradutora entre dois mundos: o da indústria tradicional e o das novas possibilidades que a inovação pode oferecer.
E, como qualquer tradutora, sigo aprendendo todos os dias. Com pessoas, com erros, com encontros como esse aqui.
E para fechar, volto à pergunta que me acompanha há anos e deixo ela com você agora:
Qual é o seu papel nesse ecossistema? Você está ajudando a construir pontes ou apenas tentando atravessá-las primeiro? O que você oferece antes de pedir?
Inovar não é só gerar valor. É compartilhar valor. E o ecossistema que queremos depende da intenção com que nos colocamos nele, como indivíduos, como organizações, como comunidade.
Então, seja qual for o seu lugar hoje, que ele venha com consciência, coragem e generosidade. Porque é assim que a inovação deixa de ser moda e vira transformação.