Uma articulação entre instituições brasileiras e chinesas está colocando Florianópolis e a cidade de Jiaxing, na China, em rota de aproximação estratégica no campo da ciência, tecnologia e inovação. O objetivo é construir uma agenda de cooperação de longo prazo entre os dois ecossistemas, unindo esforços em áreas como pesquisa aplicada, inteligência artificial, biotecnologia, energia limpa, deep techs e internacionalização de empresas. A iniciativa integra a programação do Global Innovators’ Zhejiang Tour 2025, evento que será realizado em dezembro, com a presença de delegações de diversos países.
A relação entre os dois territórios começou a se fortalecer em agosto, durante o Startup Summit 2025, em Florianópolis, quando uma comitiva chinesa do Yangtze Delta Region Institute of Tsinghua University, sediado em Jiaxing, realizou sua primeira visita à América do Sul. O instituto é uma das principais plataformas de inovação da província de Zhejiang, com foco na integração entre academia, setor produtivo e políticas públicas.
“Identificamos pontos de sinergia muito claros. Temos desafios comuns em áreas como formação de talentos, transformação industrial e desenvolvimento regional baseado em inovação”, afirma Leandro Piazza, da 49 Educação, uma das empresas organizadoras da missão brasileira. “Nossa intenção é aprofundar esse diálogo e viabilizar cooperações que tragam impacto real para os dois lados”, complementa.
Região estratégica na economia chinesa
A província de Zhejiang é uma das mais industrializadas e inovadoras da China. Com cerca de 65 milhões de habitantes e um PIB superior a US$ 1 trilhão, concentra polos de tecnologia e manufatura avançada. É sede de empresas como Alibaba, Hikvision, Geely, DeepSeek e Netease, além de abrigar dezenas de parques tecnológicos e centros de pesquisa.
O município de Jiaxing, localizado entre Xangai e Hangzhou, destaca-se por sua infraestrutura logística, vocação industrial e programas de incentivo à inovação. É lá que está instalado o Yangtze Delta Region Institute, fundado em 2003 em parceria com a Universidade Tsinghua, considerada a principal instituição acadêmica da Ásia.
A cidade de Hangzhou, onde será realizada a abertura oficial da missão, é conhecida por projetos de grande escala em inteligência artificial aplicada à gestão urbana, como o “City Brain”, desenvolvido pela Alibaba Cloud. A região do Delta do Rio Yangtze, da qual Zhejiang faz parte, responde por cerca de 20% do PIB da China.
“Essa aproximação é estratégica porque valida a maturidade do nosso ecossistema de inovação e tecnologia. Nosso propósito é sermos ponte para o mundo, e esta é mais uma oportunidade de criarmos um canal direto de troca de conhecimento e negócios entre ambientes com objetivos semelhantes”, avalia Betina Zanetti Ramos, vice-presidente de Relacionamento da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), entidade que também estará representada na imersão ao ecossistema chinês.
Missão busca resultados concretos
A missão brasileira será formada por representantes de instituições de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Norte e outras unidades da federação. Estão confirmadas entidades como Sebrae-SC, CREA-SC, ACIF, IFSC, CDL Florianópolis, Cietec-SP e Sebrae-RN, além de empresas dos setores de tecnologia, energia, nanotecnologia, comunicação e educação técnica, como Nanovetores, CELESC, WTM, ITH, Captei, Teltec Solutions, Startex, Grupo Khronos e Dialetto.
A programação inclui visitas técnicas a centros de pesquisa e parques de inovação, sessões de matchmaking com investidores e empresas chinesas, além de discussões sobre políticas públicas e instrumentos de cooperação internacional. Os participantes também visitarão hubs como o Dream Town Innovation Park, o Hangzhou Future Sci-Tech City e o Zhejiang University Science Park.
Para Daniel Leipnitz, da Cidade Inovadora, o papel da missão é ir além do intercâmbio pontual. “Não viemos para observar. Viemos para colaborar. Queremos construir pontes entre a China e a América Latina, começando por Santa Catarina, com ações práticas e duradouras”, afirma. Entre os principais interesses estão parcerias em pesquisa, programas de softlanding, acordos educacionais, joint ventures e projetos em inteligência artificial e transição energética.
Segundo os organizadores, a missão também é uma forma de posicionar Florianópolis e Santa Catarina como atores relevantes no cenário global da inovação. “Temos potencial para contribuir com criatividade, empreendedorismo e soluções de impacto. Em parceria com estruturas como o instituto de Jiaxing, podemos dar um novo passo na internacionalização do nosso ecossistema”, conclui Piazza.

