A inteligência artificial se tornou o centro da tecnologia e também um território onde se misturam expectativa, medo, desinformação e investimentos em escala sem precedentes. No AI Day 2025, realizado na última quinta-feira, 4, no Instituto Caldeira, em Porto Alegre/RS, o painel “Dentro da Bolha de IA: o hype, os riscos e o futuro real” reuniu o founding partner da ABSeed Ventures, Marcelo Hoffmann, e o gerente executivo do Agibank, Rodrigo Yuji Maruyama, para um debate sobre o que é tendência, o que é especulação e onde, de fato, estão surgindo as oportunidades mais concretas.
Para Maruyama, a febre é real mas o entendimento sobre o tema, nem sempre. “Bolha nasce quando as expectativas se descolam da realidade”. Segundo ele, é exatamente essa assimetria entre simplicidade de uso e complexidade técnica que faz a IA parecer magia para grande parte do público. “Você abre o ChatGPT e conversa. Mas o que acontece ali por trás é extremamente complexo. Quando não se compreende o fundamento, a expectativa explode”.
Maruyama lembra que, em 2022, ainda era cético: via modelos de linguagem inconsistentes, com pouco valor prático. “Quando o ChatGPT surgiu, mudou o patamar. Primeiro era curioso; um ano e meio depois, virou ferramenta de negócio, com impacto real”. Ele entende que a curva de aprendizado das empresas, porém, é bem menos acelerada que a dos modelos. E é aí que surgem os grandes gargalos: processos sem padrões, times que não conversam entre si e barreiras de usabilidade que travam adoção. “IA resolve padrões. Se a empresa não tem padrões, o projeto falha. E falha mesmo: 95% não passam da fase piloto”.
Para Hoffmann, a IA vive dois fenômenos em paralelo, uma evolução tecnológica natural e um uso calculado do hype como catalisador de retomada pós-crise. “Há intencionalidade geopolítica, corrida por domínio tecnológico e movimentos de portfólio que não têm nada de inocentes”. O investidor entende que a leitura do mercado americano não deve ser importada automaticamente para o Brasil. “A euforia da Nasdaq não é a nossa realidade. Nosso papel é usar essa janela de capital disponível para construir valor real, não para replicar bolhas”.
Quando o assunto é futuro, Maruyama não hesita: prever tendências exatas é arriscado, nem mesmo os executivos da OpenAI abrem seus roadmaps. Mas tendências de capacidade são mais claras. “O erro dos modelos cai de forma não linear e a capacidade dobra a cada sete meses. Chips ficam mais potentes consumindo menos energia. Isso tudo aponta para algo que parece distante, mas talvez não seja: a comoditização da IA”. O cenário, segundo ele, é positivo para as empresas. “Quem se integrar agora, mesmo pagando mais caro, amplia margem à medida que o custo dos modelos cai.”
O consenso final dos dois especialistas converge em um ponto crítico: a bolha existe, mas não é a que muita gente imagina. A bolha está no discurso simplificado, nos valuations acelerados e na ansiedade por substituir tudo por IA do dia para a noite. O valor real, porém, está emergindo em ritmo acelerado, especialmente onde processos maduros, dados proprietários e estratégia de longo prazo se encontram.

