Depois de décadas operando com fichas técnicas isoladas, informações incompletas e baixa visibilidade da cadeia, a indústria da moda começa a migrar para uma lógica onde cada peça precisa contar a sua própria história e prová-la. Essa mudança tem nome: Passaporte Digital do Produto (DPP), uma iniciativa da União Europeia que cria uma identidade digital para todos os produtos vendidos no setor. A medida, que busca ampliar a transparência e a responsabilidade na cadeia têxtil, estabelece que peças comercializadas na Europa carreguem um histórico digital completo, informando do tipo de fibra usada à emissão de carbono gerada na confecção. Mais do que uma norma regulatória, o DPP impõe um novo padrão competitivo global, incentivando a indústria a repensar seus processos desde a origem da matéria-prima até o descarte do produto final. Para itens têxteis, a adoção está prevista para 2028.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), a cadeia têxtil e de confecção no Brasil movimentou R$ 203,9 bilhões em 2023. Para termos uma ideia, a instituição aponta que o setor de confecção é o 2º maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para o de alimentos. Mesmo sem obrigatoriedade no Brasil, o impacto já é real. Exportadores começam a se adaptar, varejistas nacionais buscam padronizar informações e fornecedores revisam processos.
Para Ricardo Ramos Queiroz, diretor de Produto e Desenvolvimento da Audaces, multinacional ítalo-brasileira referência em soluções para a indústria da moda, o avanço da regulamentação europeia já impacta o mercado brasileiro. Ele entende que o movimento inaugura uma nova etapa da moda: a era da inteligência de produto. “De forma simples, o DPP é o RG digital de cada produto, um registro que acompanha a peça do início ao fim do seu ciclo de vida. Portanto, mais do que um documento, o DPP é uma camada de dados inteligentes que conecta o produto físico ao seu ecossistema digital: design, fábrica, logística, consumo e pós-venda”.
Segundo Ramos, a mudança é comparável ao impacto que a implementação do código de barras teve na década de 1980. “Se naquele momento o varejo passou a rastrear estoques, agora o DPP vai permitir rastrear informação, impacto e valor. Trata-se de uma infraestrutura global de interoperabilidade entre marcas, fornecedores e consumidores. E isso muda tudo”.
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Embora o Brasil ainda não tenha uma exigência definida, um potencial acordo entre o Mercosul e União Europeia, começa a pressionar o setor. “Grandes marcas internacionais estão pedindo dados estruturados e rastreáveis de seus fornecedores. Varejistas estão se preparando para comunicar sustentabilidade com base em dados reais. E empresas exportadoras estão digitalizando suas coleções e cadeias para permanecer competitivas no mercado europeu”, afirma Ramos.
É o início de uma nova era, a da inteligência de produto, onde informação e rastreabilidade passam a ser parte da experiência de marca. Quem se adiantar agora não estará apenas cumprindo uma norma, construirá vantagem competitiva baseada em dados.
Director Global de P&D da Audaces, Ricardo Ramos Queiroz
Riscos e oportunidades
Para Ramos, o maior risco não é regulatório, é ficar fora da economia dos dados. “As marcas que não estruturarem suas informações de produto perderão espaço em um mercado que passa a operar de forma conectada e baseada em evidências”.
Por outro lado, o Director Global de P&D da Audaces entende que as oportunidades são enormes. “O DPP incentiva uma reorganização digital que melhora processos, reduz desperdício, dá visibilidade à cadeia e fortalece a marca. Além de abrir portas para novos modelos de negócio, como revenda, reparo, recomposição de materiais e economia circular”. Para Ramos, quem começar agora criará produtos prontos para o futuro, produtos inteligentes, rastreáveis e com dados que contam sua história.
Hub digital
A tecnologia desenvolvida pela Audaces também viabiliza o monitoramento de cada etapa produtiva. “Funcionamos como um hub digital da coleção. Nossas máquinas e softwares integram dados reais da produção, rastreiam fornecedores e insumos e geram relatórios ambientais confiáveis”, explica Ramos, ressaltando que a rastreabilidade de ponta a ponta é um dos pilares do DPP.
O diretor explica que clientes na Europa e América Latina já utilizam as soluções da Audaces com foco no passaporte digital, estruturando dados e conectando fornecedores mesmo antes da obrigatoriedade. A demanda por suporte tem crescido, e a empresa, com presença direta em mercados estratégicos como Itália, México e Colômbia, observa um movimento global de antecipação à nova regulamentação.
Inovação sustentável
Além de tecnologias para rastreabilidade, a Audaces investe em inovação sustentável. Soluções como a produção sob demanda (Audaces On Demand), integração com sistemas de pegada de carbono e algoritmos que otimizam o uso de tecidos ajudam a reduzir desperdícios e responder à crescente demanda por práticas responsáveis. A empresa também utiliza inteligência artificial para reduzir prototipagem física e acelerar o desenvolvimento de coleções.
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No horizonte, o Plano Audaces 2030, que prevê a conquista de 70% do market share global no segmento, reforça o compromisso com uma moda conectada e sustentável. Com foco na digitalização da cadeia produtiva, na democratização do acesso à inovação e na entrega de dados confiáveis, a fashion tech quer se consolidar como parceira estratégica na transição global para um modelo mais transparente, alinhado não apenas às exigências regulatórias, mas às expectativas de um consumidor que valoriza propósito e impacto real.
Saiba mais
A Audaces é uma multinacional ítalo-brasileira, referência global em tecnologia para a indústria da moda e têxtil. Com mais de 30 anos de experiência, a empresa está presente em mais de 100 países, atendendo a 100 mil profissionais. Líder na América Latina, a Audaces possui seis escritórios na América e na Europa e desenvolve soluções inovadoras que otimizam processos de criação, produção e vendas.
