A segunda semana de negociações da COP30 teve início nesta segunda-feira, 17, com pedido por ações de implementação do Acordo de Paris. Durante a abertura da plenária de alto nível, que marca o início do ciclo político da Conferência, as autoridades brasileiras e internacionais apontaram especialmente a necessidade de avançar na transição energética e na justiça climática.
O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, participou da cerimônia reforçando a mensagem do governo brasileiro para a COP30: “esta deve ser a conferência da verdade, da implementação e, sobretudo, da responsabilidade”. “Devemos, todos nós, agir de tal forma que toda decisão tomada no presente, política, econômica, industrial ou ambiental, contribua para preservar as condições de vida na Terra, proteger a biodiversidade e assegurar a justiça entre as gerações”, acrescentou.
“O tempo das promessas já passou. Cada fração de grau adicional no aquecimento global representa vidas em risco, mais desigualdade e mais perdas para aqueles que menos contribuíram com o problema. Por isso, esta COP deve marcar o início de uma década de aceleração e entrega. O momento em que o discurso se transforma em ação concreta, em que deixamos de debater metas e, todos nós, passamos a cumpri-las”, frisou ainda o vice-presidente brasileiro.
O secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), Simon Stiell, fez um apelo para que os países avancem nas negociações climáticas de forma mais acelerada na semana que inicia, já que agora iniciam os debates políticos da COP sobre a agenda.
“Eu os exorto a chegar rapidamente às questões mais difíceis. Quando essas questões são empurradas para o tempo extra, todos perdemos. Não podemos mais nos dar ao luxo de desperdiçar tempo com atrasos táticos ou obstruções. O tempo da diplomacia formal já passou. Agora é hora de arregaçar as mangas, nos unirmos e fazer o trabalho”, destacou.
Dez anos do Acordo de Paris
“O Acordo de Paris é a única forma da humanidade sobreviver a esta crise climática global e de espalhar os vastos benefícios da ação climática para todas as nações”, reforçou Stiell, acrescentando que a “cooperação climática deve permanecer firme em meio às divisões do mundo”.

A presidente da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock, relembrou que as negociações climáticas são complexas, mas que o Acordo de Paris obteve grandes conquistas.
“A jornada da COP nunca foi de progresso linear fácil. Sempre veio e sempre vem em saltos e rajadas. Através de noites longas e negociações intermináveis, aprendemos a superar o desespero de Copenhague e levamos adiante o legado de Paris. É por isso que, especialmente enquanto celebramos os 10 anos de Paris, que é um longo período se você olhar para o efeito da crise climática, mas a muito curto prazo para a diplomacia internacional, quero focar nos ganhos”, defendeu a presidente da Assembleia Geral da ONU.
Baerbock apontou que há um clima de desencorajamento do processo climático pelos “retrocessos globais”, mas que os exemplos de sustentabilidade pelo mundo precisam ser valorizados.
“Tenho sido inspirada repetidamente, desde Paris, pela coragem e determinação de pessoas que, através de regiões e setores, avançaram apesar dos ventos contrários. As soluções estão todas lá fora, por todo o mundo. Agora temos que conectá-las, focando em nossos mais fortes e maiores amigos: a confiança e a cooperação regional. Esta é uma nova forma de multilateralismo. Ou como dizemos aqui no Brasil: ‘vamos fazer um mutirão’. Este poder coletivo é mais forte do que nunca”, sustentou.
Transição energética
Os avanços na energia renovável foram apontados como um dos resultados mais palpáveis do Acordo de Paris. Na COP28, em Dubai, também foi estabelecida a meta de triplicar renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030, através do Balanço Global (GST, na sigla em inglês) e das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês).
“Muitos até duvidavam do potencial da energia renovável. Falar sobre a eliminação do carvão era visto como quase utópico. E agora, 10 anos depois, um curto período na diplomacia internacional, estamos fazendo a transição dos combustíveis fósseis”, celebrou Annalena Baerbock. “Elas são agora a fonte de energia de crescimento mais rápido, representando 90% das novas instalações de energia global em 2024”, completou.
Simon Stiell também apontou esse crescimento, dizendo que mais de US$ 2,2 trilhões foram destinados para a energia renovável só no ano passado – valor superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de 180 países do mundo. E, na COP30, o avanço continua.
“Em sete dias, as nações mobilizaram um investimento de trilhões de dólares em energia limpa e redes. Estabeleceram um plano global para quadruplicar os combustíveis sustentáveis (Belém 4x), desbloquearam novas formas de indústria verde e começaram a preparar um pipeline de novos investimentos em adaptação. Eles refletem um fato irrefutável impulsionado por este processo: uma nova economia está surgindo”, disse.
Protagonismo
O vice-presidente brasileiro apontou o estágio avançado da transição energética em que está o país. “O Brasil chega a esta conferência reafirmando seu compromisso com a energia limpa, a inovação e a inclusão. Temos a matriz energética mais renovável entre as grandes economias e somos pioneiros em biocombustíveis e bioenergia. Este ano, o governo do presidente Lula aumentou para 30% a participação do etanol na gasolina e aumentou para 15% o bio no diesel”, relembrou.
“Na mesma linha, o Compromisso de Belém 4X ambiciona quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e 25 países já se juntarem ao esforço”, reiterou o também ministro da Indústria e Comércio, sobre o acordo lançado na Cúpula do Clima de Belém que conta com 25 endossos de países e entidades internacionais.
Alckmin ainda ressaltou os compromissos do Brasil em zerar o desmatamento de florestas até 2030 e o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) – que pretende remunerar os países que preservarem as suas vegetações. “Proteger a floresta é proteger as pessoas — porque a vida humana e a natureza são inseparáveis”, disse. Ele também destacou a criação da Coalizão Global de Mercados Regulados de Carbono, a qual estabelecerá um padrão comum e conectará diferentes sistemas de comércio de créditos de carbono.
Exposição “Amazônia”
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, conduziu toda a sessão de alto nível. Na abertura, ele destinou um momento para a exibição de um vídeo com parte da série de fotos “Amazônia”, de autoria do grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que morreu em maio deste ano.
“Seu legado permanece como consciência imortal de seu tempo. Um sentido que dignifica a pessoa em seu trabalho, seu solo e também nos conclama a proteger as florestas, as águas e todos os seres viventes sobre o nosso planeta”, homenageou o presidente da COP30, sobre as fotografias tiradas entre 2013 e 2019 em diversas regiões da Amazônia.
A curadoria para o vídeo foi feita pela esposa do fotógrafo, Lélia Wanick Salgado, com sonorização da cantora lírica brasileira, Maria Lúcia Godoy. A exposição de Salgado pode ser visitada no Museu das Amazônias, em Belém.

