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Educar na era da distração

Marina Alano
Última atualização: 05/10/2025 10:50
Marina Alano - Estrategista em Inovação | Articuladora de Ecossistemas | Conectando Educação, Tecnologia e Comunidade - Community Manager na FIAP + Alura
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O desafio de escolas e empresas para formar mentes focadas em ambientes hiperconectados

Nos últimos anos, a distração deixou de ser um simples incômodo cotidiano para se tornar parte da nossa cultura. Cada notificação, cada aba aberta, cada scroll automático ajudou a moldar um novo modo de pensar — mais acelerado, mais fragmentado, menos presente.

Desde fevereiro de 2025, as escolas brasileiras vivem um marco importante: celulares foram oficialmente proibidos durante aulas, recreios e intervalos. As carteiras estão mais limpas, as telas desapareceram da vista, as notificações foram silenciadas,  pelo menos no espaço físico. Mas quem observa de perto sabe: a distração não foi embora — ela se instalou dentro de nós.

Ela vive nos reflexos automáticos, na inquietação mental, na dificuldade crescente de sustentar o olhar, a escuta e a atenção. Mesmo sem o celular em mãos, alunos enfrentam o desafio de mergulhar profundamente em uma atividade. Professores e gestores buscam novos caminhos para ensinar e engajar. A pergunta que ecoa é direta:

Como formar mentes focadas em uma sociedade que naturalizou a dispersão?

A atenção se tornou o novo território em disputa

A atenção sempre foi um bem limitado. O que mudou foi o nível da disputa por ela. Plataformas, algoritmos de recomendação e interfaces digitais foram desenhados para capturar e reter nosso foco — e são incrivelmente eficazes nisso. Como alerta Nicholas Carr em The Shallows, “o que a rede parece estar fazendo é reconfigurar meu cérebro para que ele queira pegar informação rapidamente, mas não para sustentá-la” [1].

Essa transformação não é apenas tecnológica — é cognitiva. Pesquisas da Universidade de Stanford mostram que pessoas acostumadas ao multitasking digital têm mais dificuldade para filtrar ruídos e manter foco seletivo [2]. A neurocientista Maryanne Wolf nos lembra que, ao trocarmos a leitura profunda pelas leituras aceleradas das telas, estamos perdendo uma das capacidades mais sofisticadas do pensamento humano: compreender criticamente, refletir e conectar [3].

Os números ajudam a dimensionar a urgência. Segundo o Pew Research Center, 54% dos adolescentes norte-americanos afirmam estar “quase constantemente online” [4]. Estudos da Common Sense Media mostram que, mesmo após a pandemia, adolescentes passam mais de 8 horas diárias em telas recreativas, com impactos diretos no sono, na concentração e no desempenho escolar [5].

No mundo adulto, o cenário também mudou radicalmente. Em 2015, a Microsoft mostrou que o tempo médio de atenção sustentada havia caído de 12 segundos no ano 2000 para 8 segundos — menos que a atenção de um peixinho dourado [6]. A metáfora pode ser provocativa, mas aponta para uma realidade clara: nossos sistemas mentais foram reorganizados para saltar de estímulo em estímulo, em vez de sustentar a profundidade.

Educação e trabalho em meio à nova ecologia da distração

As consequências desse novo ecossistema de atenção são visíveis nas escolas. Professores relatam salas mais inquietas, dificuldade em manter alunos engajados em leituras longas ou explicações contínuas. Pesquisas conduzidas por Rosen, Lim, Carrier e Cheever já mostravam, ainda em 2011, que alunos que recebem mensagens de texto durante as aulas apresentam desempenho significativamente inferior em testes de retenção de conteúdo — mesmo quando acreditam estar prestando atenção.

Dados da OECD (PISA 2018) também revelam uma correlação negativa entre tempo de tela recreativo excessivo e desempenho em leitura e matemática [7]. E a UNESCO reforça: embora as tecnologias possam ampliar acesso e engajamento, sem uma estratégia clara, tendem a fragmentar a atenção e comprometer a aprendizagem profunda [8].

Nas universidades, os efeitos são igualmente perceptíveis: salas silenciosas, alunos presentes fisicamente, mas mentalmente dispersos. A antropóloga Sherry Turkle chama esse fenômeno de “atenção dividida estrutural”: mesmo quando estamos juntos, nossas mentes estão constantemente sendo puxadas para interfaces paralelas.

No mundo corporativo, a lógica não é diferente. Segundo a Deloitte, 49% dos trabalhadores relatam dificuldade em manter foco em tarefas críticas por causa do excesso de notificações e interrupções digitais [9]. A Harvard Business Review já alertava: a atenção coletiva — a capacidade de um time concentrar-se em um mesmo objetivo — é hoje um ativo organizacional tão valioso quanto capital financeiro, mas raramente é tratada como tal [10]. Reuniões híbridas dispersas, chats intermináveis e fluxos de mensagens ininterruptos criam ambientes em que pensar profundamente se torna quase contracultural.

 A legislação como ponto de virada — e não solução mágica

A promulgação da Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas, marca um passo importante. O decreto que a regulamenta prevê exceções para uso pedagógico mediado por professores e acessibilidade, mas exige que cada escola crie regras claras e promova ações de conscientização junto a famílias e educadores [11].

Essa legislação sinaliza algo fundamental: atenção não é apenas uma questão individual — é cultural, pedagógica e regulatória. No entanto, leis não resolvem sozinhas. Para transformar a relação dos estudantes com a atenção, é necessário que escolas, famílias e sociedade atuem em sinergia. Não basta proibir celulares; é preciso reconstruir ecossistemas de aprendizagem que sustentem a atenção em profundidade.

 Reconstruindo espaços de atenção

Se a distração virou infraestrutura, a resposta não virá de moralismos ou de medidas superficiais, e sim de estratégias conscientes para redesenhar experiências.

No meu trabalho como articuladora de ecossistemas de inovação, vejo diariamente o impacto de ambientes bem desenhados. Quando a experiência muda, as pessoas mudam junto. Em eventos e meetups, temos priorizado atividades presenciais curtas, intensas e práticas, em que os participantes literalmente precisam tirar o celular da frente para se engajar.

Em uma das ativações com estudantes, por exemplo, em vez de começar com slides, iniciamos com um desafio mão na massa em grupos pequenos. A transformação é imediata: em poucos minutos, a sala deixa de estar fragmentada em telas individuais e se converte em um espaço de criação coletiva. Não se trata de “desligar o digital”, mas de reposicionar a tecnologia como ferramenta — e não como centro da atenção.

Com educadores e líderes de inovação, testamos microformatos de conteúdo: blocos de fala de 15 a 20 minutos, seguidos por conversas abertas ou dinâmicas práticas. Esse desenho reconhece que o tempo de atenção mudou — e trabalha com ele, não contra ele.

Empresas também estão se movendo. Algumas reduziram notificações em horários de foco, outras criaram blocos de “deep work” nas agendas coletivas ou repensaram seus espaços físicos para reduzir estímulos desnecessários. Escolas que combinam uso digital intencional com leitura profunda, projetos manuais e debates presenciais vêm conseguindo resultados concretos: mais engajamento, mais retenção de conhecimento, mais presença real.

Atenção como bem comum

Educar na era da distração não é apenas ensinar novos conteúdos — é redesenhar a cultura. É escolher, conscientemente, onde e como direcionamos nossa atenção coletiva.

As tecnologias não vão desacelerar. Os algoritmos não vão, por vontade própria, devolver nosso foco. Cabe a nós — educadores, famílias, líderes, designers de experiências — reconstruir espaços onde a atenção seja cultivada como um bem comum.

Talvez a próxima revolução educacional e organizacional não esteja em uma nova plataforma ou aplicativo, mas na nossa capacidade de criar experiências humanas significativas em meio ao ruído. E essa transformação começa nos pequenos gestos: uma dinâmica bem desenhada, um espaço sem notificações, um momento de leitura compartilhada.

É assim, passo a passo, que formamos mentes focadas em um mundo hiperconectado.

Referências

[1] Carr, Nicholas. *The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains*. W.W. Norton & Company, 2010.
[2] Ophir, E., Nass, C., & Wagner, A. D. (2009). Cognitive control in media multitaskers. *PNAS*, 106(37), 15583–15587.
[3] Wolf, Maryanne. *Reader, Come Home: The Reading Brain in a Digital World*. HarperCollins, 2018.
[4] Pew Research Center. *Teens, Social Media and Technology*. 2023.
[5] Common Sense Media. *The New Normal: Parents, Teens, Screens, and Sleep in the Pandemic Era*. 2022.
[6] Microsoft. *Attention Span Research Report*. 2015.
[7] OECD. *PISA 2018 Results*. Paris: OECD Publishing.
[8] UNESCO. *Technology in education: A tool on whose terms?* Global Education Monitoring Report. 2023.
[9] Deloitte Insights. *Digital Distraction at Work*. 2022.
[10] Harvard Business Review. “Why You Should Manage for Collective Attention.” June 2019.
[11] Brasil. Lei nº 15.100/2025. Ministério da Educação. Disponível em: https://www.gov.br/mec.

TAGS:educação
Por Marina Alano Estrategista em Inovação | Articuladora de Ecossistemas | Conectando Educação, Tecnologia e Comunidade - Community Manager na FIAP + Alura
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