No mundo jurídico, onde precisão e segurança da informação são requisitos indispensáveis, a aplicação de inteligência artificial (IA) tem despertado tanto entusiasmo quanto cautela. Com mais de 15 anos de atuação no mercado, a lawtech doc9 vem se consolidando como um dos principais nomes dessa transformação ao lançar o Which, uma IA jurídica que coloca a segurança de dados no centro da operação.
De acordo com o mestre em Inteligência Artificial e Head de Tecnologia da doc9, Rhuam Sena, o Which nasceu da percepção de que a adoção acelerada de IA generativa em escritórios de advocacia e departamentos jurídicos trazia riscos consideráveis. “Como, por exemplo, respostas sem embasamento técnico, tarefas repetitivas, alucinações nos resultados, vazamento de informações sensíveis e escassez de tempo para análises aprofundadas”. Para enfrentar esse cenário, Sena destaca que a doc9 inverteu a lógica usual: estruturou primeiro a camada de segurança, para só depois implementar a inteligência artificial.
Um dos diferenciais da solução é o treinamento específico para o contexto jurídico brasileiro, evitando vieses de modelos treinados com dados globais que adaptam a linguagem ao sistema legal nacional. Além disso, opera em um ambiente fechado, garantindo segurança e evitando o vazamento de informações. O Which consulta em tempo real jurisprudência, doutrina e legislação, garantindo que novas normas e decisões já façam parte das respostas. “Não se trata apenas de usar IA em português. É preciso compreender a lógica do nosso ordenamento jurídico, que é distinta do modelo americano”, explica Sena.
Sua base robusta permite formulação de teses e argumentações com embasamento técnico, além de promover brainstorms jurídicos, consultar jurisprudências, acompanhar andamentos processuais e interagir com seus próprios documentos. Além disso, as respostas trazem referências e links oficiais, permitindo conferência imediata. Escritórios também podem treinar o sistema com seus próprios documentos, personalizando a produção de peças e pareceres de acordo com a linguagem da banca.
Segundo Sena, a arquitetura da doc9 foi desenhada em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e segue padrões internacionais de segurança, incluindo certificações ISO e protocolos internos de compliance. “Todos os nossos colaboradores passam por treinamentos constantes e testes de segurança. Essa base torna possível entregar uma IA jurídica que não expõe informações a ambientes abertos, blindando contra vazamentos, que são um risco real”.

Mercado e receptividade
A solução da doc9 acompanha um movimento cada vez mais robusto no setor jurídico. Recentemente, o Ministério Público do Rio Grande do Sul anunciou o uso de inteligência artificial para analisar processos e depoimentos. Assim, a lawtech se antecipa às transformações do setor jurídico ao disponibilizar uma IA capaz de atuar com ética e segurança em um setor que exige máxima precisão. “O Which nasceu para colocar a tecnologia a serviço da inteligência jurídica. Não se trata de substituir o olhar humano, mas de ampliá-lo com precisão e qualidade nos resultados”, destaca o CEO da doc9, Klaus Riffel.
Com um modelo de negócios baseado em assinatura recorrente e preço competitivo frente a ferramentas internacionais, o Which também pode ser contratado em formato corporativo, atendendo grandes escritórios e departamentos jurídicos. Sena ressalta que a adoção tem sido rápida. “O Which é preparado para se comunicar com advogados, trazendo embasamento e linguagem técnica. Isso eleva a qualidade das respostas e gera uma percepção de valor logo no primeiro contato”.
A iniciativa reforça a ascensão das lawtechs brasileiras e simboliza a inflexão digital do Judiciário, em um momento em que a doc9 projeta alcançar R$ 50 milhões em receita até o fim do ano. Recentemente, a empresa captou R$ 35 milhões de aporte liderado por uma gestora global de venture capital. Também é vinculada à Cubo Itaú, maior hub de inovação e tecnologia da América Latina.
Mudança de rota na Pandemia
Fundada em Canoas/RS, a doc9 nasceu oferecendo diligências jurídicas presenciais, como cópias de processos físicos e audiências, expandindo depois para cálculos judiciais e tele audiências. De acordo com Sena, a Pandemia do novo coronavírus (Covid-19) acelerou uma mudança de rota. A empresa percebeu a necessidade de reduzir a dependência de serviços manuais e iniciou um processo de transformação digital, criando produtos próprios. O primeiro foi o Whom, um gerenciador de certificados digitais que rapidamente se destacou e projetou a empresa como referência em inovação e proteção de dados sensíveis. “Esse movimento nos mostrou que havia espaço para desenvolver soluções tecnológicas robustas voltadas ao Direito. A partir daí, a IA entrou como uma evolução natural, mas sempre com a segurança como prioridade”, recorda.
Para o Head de Tecnologia da doc9, o mercado jurídico vive um momento de inflexão. Se há poucos anos a expectativa era de que mudanças demorariam décadas, a pandemia acelerou a digitalização e abriu espaço para automações mais complexas. “Ainda temos uma falsa noção de digitalização. Tirar uma foto de um documento e enviar por e-mail não é digitalizar. O futuro passa por fluxos totalmente digitais, indexados e conectados ponta a ponta, desde os escritórios até os tribunais”, projeta.
Nesse cenário, a doc9 busca ocupar um espaço estratégico: oferecer soluções que integrem etapas do processo jurídico, substituindo pequenos serviços fragmentados por plataformas mais completas e seguras. Hoje, a empresa atende alguns dos maiores escritórios do país e se define como um laboratório de inovação, onde as soluções nascem da escuta das dores dos clientes.
Mais do que seguir a onda do hype em inteligência artificial, a doc9 aposta em uma abordagem pragmática. Sena entende que a IA não é uma ‘bala de prata’ capaz de resolver tudo, mas pode gerar ganhos significativos quando aplicada em problemas reais. “Não substitui o advogado, mas potencializa sua atuação, trazendo segurança, embasamento técnico e produtividade”, conclui.