O ecossistema de inovação brasileiro ganhou um novo reforço para fomentar tecnologias de alto impacto e longo prazo. Estão abertas até o dia 15 de agosto as inscrições para o Base, programa nacional gratuito voltado à criação e ao desenvolvimento de deeptechs (tecnologias inovadoras que são baseadas em descobertas científicas e avanços de engenharia de ponta, com o objetivo de resolver problemas complexos). A ação é uma iniciativa nacional da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), em parceria com o Sistema Fiergs, realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio Grande do Sul (Senai-RS) e pela consultoria Numerik. Com foco em soluções aplicadas ao agronegócio, o Base oferece capacitações personalizadas, mentorias e bolsas, além de acesso a uma rede nacional de inovação. O objetivo é apoiar tanto pesquisadores que desejam empreender quanto startups já formalizadas que buscam estruturação e acesso a mercado.
Um dos grandes diferenciais do Base é a oferta de 30 bolsas financiadas pela Embrapii, destinadas a pesquisadores e startups vinculados a universidades, instituições de ciência e tecnologia (ICTs), parques tecnológicos ou grupos de pesquisa. Os valores variam conforme o nível acadêmico: mestrando (R$ 4.500,00); mestre (R$ 5.500,00); doutorando (R$ 6.500,00); doutor (R$ 7.500,00). As bolsas podem ser acumuladas com auxílios de outras agências de fomento, como, por exemplo, Capes, Fapergs e Fapesp. “Queremos que o pesquisador tenha condições reais de focar no desenvolvimento da tecnologia. Muitos acabam acumulando bolsas para se manter, o que dilui o esforço de pesquisa. O Base dará suporte financeiro, mentoria, capacitação qualificada e não exige dedicação exclusiva permitindo a cumulatividade”, explica o analista sênior em Inovação e Tecnologia no Senai-RS/Fiergs, Bernardo Bonifácio Ferreira.
Além disso, Bernardo destaca que os projetos precisam ter aderência ao setor de agricultura digital, ainda que a aplicação não seja imediata ou explícita. “Muitas vezes, o próprio pesquisador não percebe que sua solução pode ter aplicação no agro. Nossa equipe técnica avalia caso a caso para não excluir potenciais soluções”.
Desde seu lançamento, o Base já foi apresentado em hubs de inovação pelo país, incluindo São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Paraná e Pará. No Rio Grande do Sul, a divulgação ocorreu no Instituto Caldeira e em um evento realizado nesta segunda-feira, 11, no Tecnopuc. “A diversidade regional é um dos pontos fortes do programa. Queremos conectar diferentes ecossistemas de inovação e levar oportunidades para pesquisadores de todo o Brasil”, reforça uma das coordenadoras do programa Base, a coordenadora de Inovação Aberta do Senai-RS/Fiergs, Victória Kern.

e a coordenadora de Inovação Aberta do Senai-RS/Fiergs, Victória Kern. | Foto: Divulgação.
Jornada em quatro etapas
O Base foi desenhado para apoiar diferentes estágios de maturidade de deeptechs, com trilhas específicas para cada perfil. As propostas serão avaliadas por um comitê de inovação, considerando critérios como: grau de inovação, relevância para a agricultura digital, maturidade tecnológica, potencial de impacto no mercado e viabilidade técnica e comercial. Além disso, para manter a participação no programa, os selecionados devem cumprir no mínimo 80% das atividades previstas em sua jornada.
Todas as fases são online e gratuitas, com alguns encontros presenciais opcionais. A estrutura varia conforme cada etapa:
- Fase 01 (Boost): Nesta fase, a Numerik selecionará 150 pesquisadores de todo o Brasil, identificando aqueles com potencial para desenvolver suas pesquisas e avaliar a viabilidade de transformá-las em negócios. Os selecionados participarão de treinamentos e capacitações técnicas.
- Fase 02 (Advance): Esta fase oferece capacitação em gestão da inovação e propriedade intelectual, com o intuito de acelerar o desenvolvimento de planos de negócios robustos e viáveis.
- Fase 03 (Shape): O foco aqui é apoiar a transformação dos planos de negócios em startups ou empresas efetivas. Isso será feito por meio de mentorias personalizadas, com a meta de gerar 30 novas empresas.
- Fase 04 (Expand): A última fase visa expandir a inovação e a escalabilidade das startups, oferecendo capacitações e mentorias adicionais. Além disso, facilitará o acesso a investidores e oportunidades globais, promovendo a inserção das startups no mercado internacional.
Para Victória, o diferencial do Base está na personalização do atendimento. “Optamos por não colocar todas as startups no mesmo pacote. Deeptechs têm desafios distintos, seja na saúde, energia ou agricultura. As fases foram criadas para respeitar esse nível de maturidade e dar suporte adequado a cada momento”.
Bernardo ressalta que o programa Base foi criado em sintonia com o mercado, após mapeamento e entrevistas com pesquisadores e startups deeptechs, a fim de entender as lacunas de apoio no ecossistema. “Encontramos um padrão: falta tempo e recurso para que o pesquisador se dedique a transformar conhecimento em negócio”.
Centro de Competência Embrapii para Agricultura Digital
Referência em pesquisa e desenvolvimento voltados para avanços científicos em temas emergentes com o objetivo de preparar empresas e talentos para liderar a indústria do futuro. Esses são os objetivos da rede dos centros de competência Embrapii. Criados em 2022 e com início de operação em 2023, a Embrapii investiu mais de R$ 500 milhões para testar um modelo inédito de fomento à inovação radical.
O programa Base é uma das primeiras ações do novo Centro de Competência Embrapii para Agricultura Digital, sediado na unidade do Senai-RS, em São Leopoldo/RS. Resultado de uma parceria entre a Rede Senai-RS de Institutos de Tecnologia e Inovação e a Embrapii, o centro integra uma rede que conta com outras oito instituições de ponta do país, como o Centro de Competência Embrapii em Terapias Avançadas (CCTA – Hospital Albert Einstein), Centro de Competência Embrapii em Tecnologias Quânticas (QuIIN –Senai Cimatec) e Centro de Competência Embrapii em Segurança Cibernética (Cesar). Tem como objetivo promover o desenvolvimento de tecnologias digitais para a agroindústria nacional, elevando a competitividade do Brasil no mercado global e contribuindo para uma agricultura mais sustentável e eficiente.
Victória explica que cada centro atua em uma especialidade diferente: o do Rio Grande do Sul ficou responsável por tecnologias aplicadas ao agronegócio. “Empresas privadas no país raramente investem em pesquisas de alto risco e retorno de longo prazo. O centro foi criado para permitir o desenvolvimento de tecnologias que ainda nem sabemos nomear, garantindo suporte e tempo para que elas amadureçam”.
A principal diferença desse novo modelo é que ele não atua por demanda da indústria, como acontece com os tradicionais centros Embrapii, mas sim por meio de associações tecnológicas. Empresas, pesquisadores e startups se tornam membros do centro, participando das decisões sobre quais linhas de pesquisa devem ser exploradas. Ao final, têm acesso prioritário às tecnologias desenvolvidas.
Com um modelo inédito e suporte robusto, o Base se posiciona como porta de entrada para que pesquisadores brasileiros transformem ciência em soluções tecnológicas de impacto global no setor da agricultura digital.