Com a criatividade dos usuários brasileiros e a rápida adoção de ferramentas de inteligência artificial (IA), a Photoroom, startup francesa especializada em soluções visuais para negócios digitais, mira o Brasil como um dos mercados-chave para sua expansão na América Latina. Em entrevista ao starten.tech, o CFO da empresa, Julien Lafouge, detalha como o país influencia o roadmap da empresa e quais tendências devem moldar o futuro da IA.
Fundada há seis anos, a Photoroom começou com uma proposta simples: oferecer um aplicativo para edição de imagens com foco na remoção de fundos. O sucesso foi rápido e a empresa se transformou em uma espécie de ‘agência criativa digital’, oferecendo recursos para que pequenos empreendedores pudessem criar identidade visual, anúncios e estratégias de marketing sem depender de softwares complexos ou equipes especializadas. Grandes marcas, como Decathlon e Amazon, também passaram a utilizar a ferramenta para otimizar operações de e-commerce.
Disponível em 180 países para dispositivos móveis e na versão web, a Photoroom oferece recursos que vão além da edição básica de imagens. É possível remover fundos com um clique, gerar fotos com novos cenários por IA, criar logotipos, kits de marca e acessar modelos prontos para anúncios e redes sociais. “Nosso objetivo é que qualquer negócio consiga construir uma identidade visual completa, gerar materiais de marketing e alcançar mais clientes. Para mostrar o impacto real, disponibilizamos até uma calculadora de retorno sobre investimento”, explica Lafouge.
Com soluções próprias de IA e parcerias estratégicas com empresas como a OpenAI, a Photoroom busca oferecer os melhores modelos de edição e criação visual, sempre com foco em ganhos concretos para os usuários.
A Photoroom vai muito além de editar fotos. Ela ajuda empresas de todos os portes a construir marca e vender melhor. Incorporamos modelos próprios de IA e também firmamos parcerias com players globais para oferecer aos clientes as melhores soluções.
CFO da Photoroom, Julien Lafouge.

Potencial estratégico
Segundo o AITools.xyz, que monitora mais de 10.500 ferramentas de IA, o ChatGPT segue líder de acessos com 4,6 bilhões de visitas em junho de 2025, equivalente a 48% do uso global. A Photoroom ocupa a 28ª posição (20,1 milhões de visitas), enquanto o Brasil se mantém como o terceiro país que mais utiliza ferramentas de IA, com 5,22% do tráfego mundial, atrás apenas dos Estados Unidos (18,43%) e da Índia (9,27%).
A Photoroom rapidamente percebeu que o Brasil era um ponto fora da curva. Dados internos da empresa mostram que o país é um dos locais onde a adoção de IA é mais acelerada: 40% da população declara já utilizar soluções do tipo, índice superado apenas pela Índia. Para Lafouge, isso reflete não só a curiosidade tecnológica, mas também uma necessidade prática. “Muitos brasileiros têm um emprego formal e, ao mesmo tempo, buscam aumentar a renda com pequenos negócios. A Photoroom ajuda desde quem revende roupas em marketplaces até artistas que usam a versão gratuita para criar conteúdo para redes sociais. É um país onde as pessoas experimentam e incorporam rapidamente novas soluções”.
Em artigo recente publicado no starten.tech, o executivo destacou que o Brasil entrou ‘com consistência no mapa de prioridades de startups globais que atuam com IA’, passando de mercado promissor a elo estratégico para a expansão internacional. Esse movimento é impulsionado por:
- – Cultura digital engajada: o país é um dos maiores consumidores de plataformas visuais como Instagram e TikTok.
- – Ambiente de validação acelerada: ajustes que levam trimestres em outros mercados são feitos em semanas no Brasil, permitindo testar e aprimorar produtos rapidamente.
- – Talento local e custo competitivo: engenheiros, designers e cientistas de dados formam uma base sólida para desenvolvimento de soluções.
- – Diversidade cultural: fundamental para treinar modelos de IA mais justos e adaptáveis.
Esses fatores fazem com que tecnologias validadas no Brasil tenham potencial de operar em escala global. “O crescimento do ecossistema de startups e os investimentos em IA mostram que o país se consolidou como centro de inovação na América Latina”, destaca Lafouge.

Crescimento sustentável e internacionalização
No início de 2025, a Photoroom intensificou os esforços de localização do aplicativo, adaptando não apenas a tradução para o português brasileiro, mas também a experiência digital aos hábitos locais de consumo. Além disso, a empresa iniciou ações com influenciadores, movimento que antecede um passo maior: a expansão para atender empresas de grande porte e, futuramente, estabelecer uma estrutura regionalizada. “Nosso roadmap para o Brasil é claro: queremos aprimorar a experiência dos usuários, aumentar a presença no mercado corporativo e investir em canais que nos aproximem dos clientes. Entre os países estratégicos, o Brasil está no topo da lista, ao lado de Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão”, revela o CFO da Photoroom.
Ao contrário de muitas startups de IA que ‘queimam caixa’, a Photoroom mantém operação financeiramente saudável desde o início. Isso garante liberdade para investir em novos mercados e produtos sem comprometer o equilíbrio do negócio. Sobre o processo de internacionalização, Lafouge diferencia dois caminhos: empresas que exigem presença física e serviços digitais, que conseguem escalar globalmente sem estrutura local inicial. “Nosso modelo digital permite conquistar mercados rapidamente, mas à medida que crescemos, é natural buscar talentos e operações locais. O Brasil tem profissionais de altíssimo nível e vamos aproveitar isso”.
A monetização das soluções de IA, segundo o CFO da Photoroom, é uma das grandes tendências do setor. Com o avanço dos modelos e a comprovação de ganhos de produtividade, a expectativa é de maior propensão ao pagamento por parte de empresas e profissionais autônomos.
Desafios regulatórios e tendências da IA
A regulamentação da IA ainda é uma construção em andamento, tanto na Europa quanto no Brasil. Para Lafouge, é natural que exista defasagem entre a velocidade de evolução tecnológica e os prazos legislativos, mas ele avalia que aspectos essenciais, como proteção de dados e uso responsável de imagens, já estão razoavelmente cobertos. “Há uma discussão importante em torno da LGPD, riscos e ética no uso da tecnologia. O desafio é global: regular com pragmatismo e conhecimento técnico”.
No cenário global, ele aponta três movimentos que devem ganhar força nos próximos anos: consolidação do setor por meio de fusões e aquisições; aumento da adoção sistemática de IA em processos de negócios; e evolução da percepção de valor, com foco no retorno sobre investimento.
Lafouge também compartilha conselhos para startups em busca de expansão internacional. Ele entende que para negócios digitais, a entrada em novos mercados pode ser feita de forma escalável, sem grandes estruturas físicas, mas exige abertura para entender culturas e aproveitar talentos locais. “É preciso ter mente aberta. Muitas vezes, empresas europeias e norte-americanas ignoram talentos e potenciais de países emergentes. Algumas das melhores pessoas com quem trabalhei são brasileiras”.
Com uma operação sustentável e foco em mercados estratégicos, a Photoroom enxerga o Brasil não apenas como destino de expansão, mas como peça central para definir sua próxima fase de crescimento e influenciar a evolução global da IA aplicada ao comércio digital.