Copilot vasculha todo o seu universo de dados — todos os seus e-mails, reuniões, bate-papos, documentos e até mesmo a web — para ajudá-lo a melhorar a produtividade e ampliar sua criatividade no trabalho.¹
Foi com essa frase que a Microsoft abriu sua apresentação de introdução ao Microsoft 365 Copilot, e um caos corporativo se iniciou: SEREI CONSTANTEMENTE MONITORADO PELA MINHA EMPRESA?
Se você é gestor e essa pergunta não chegou até você diretamente, acredite: os grupos paralelos dos seus colaboradores não falam em outra coisa. Pesquisas como “Como saber se estou sendo monitorado no trabalho?”, “Quais ferramentas de IA monitoram minhas atividades?” e “Como evitar o rastreamento das minhas atividades por IA?” explodiram no Google nos últimos meses, abrindo grande margem para debater se a transparência e a comunicação estão sendo bem trabalhadas nas organizações.
Por outro lado, você, colaborador, fez alguma dessas perguntas nos últimos meses? Se sim, qual o real motivo da preocupação? Tem realmente a ver com privacidade? Até que ponto uma empresa pode monitorar as atividades dos colaboradores em horários de expediente?
Esse debate, de fato, está em alta, com bons argumentos de todos os lados. Porém, particularmente, o que mais me chama atenção nesse tema é: devo realmente me preocupar com o monitoramento de atividades com uso de IA pela minha empresa? E essa pergunta automaticamente puxa outro tema polêmico que também está em alta: a terceirização da criatividade e do pensamento crítico para as IAs — e sim, essa terceirização está sendo realizada VOLUNTARIAMENTE.
O grande ponto a que estou tentando chegar é que tenho a sensação de que o medo do monitoramento no trabalho esconde algo mais profundo: pessoas estão ficando intelectualmente preguiçosas. A IA generativa, ao mesmo tempo que empodera, também facilitou a procrastinação e a autoenganação. Finge-se produtividade, encena-se competência… mas será que estão mesmo preparadas e entregando resultados? Ou apenas mentindo melhor para si mesmas?
E, nesse cenário corporativo, hoje, se equilibra entre a busca por inovação e o receio de perder o controle sobre processos e pessoas. De um lado, líderes entusiasmados com dashboards que prometem mapear cada movimento digital da equipe. De outro, profissionais divididos entre o alívio de automatizar tarefas
repetitivas e o receio de ver suas competências diluídas — ou tornarem-se irrelevantes — diante de algoritmos cada vez mais sofisticados.
Não se trata apenas de vigiar para garantir produtividade, mas de repensar o valor que cada indivíduo agrega em um ambiente onde a criatividade pode ser delegada a uma máquina. Surge, então, o desafio: como cultivar pensamento crítico e originalidade quando a tentação de terceirizar até mesmo o raciocínio se torna tão acessível?
Talvez a verdadeira ameaça não seja a vigilância, mas o comodismo intelectual que a tecnologia pode induzir. Empresas precisarão incentivar ambientes em que a IA seja uma aliada da criatividade, não um substituto do esforço humano. E cada pessoa, por sua vez, terá de decidir se vai se contentar em cumprir tarefas automatizadas ou se buscará se destacar justamente por aquilo que nenhuma IA consegue replicar: a autenticidade e a capacidade de pensar além do previsível.
Enquanto muito se fala em empregos sendo substituídos por IA, pouco se fala sobre a urgência de capacitação REAL (sim, abaixar a cabeça e estudar, e não pedir um resumo ao ChatGPT), de lifelong learning, e do fato de que entregas reais, de pessoas reais, jamais poderão ser substituídas – mas mesmo entregas reais precisam de agilidade.
Engana-se quem realmente acredita que gestores não identificam entregas criadas por IA, quando, de fato, deveriam ter sido executadas com profundo embasamento técnico que um profissional devidamente capacitado deveria ser capaz de entregar.
A grande inteligência humana está em SABER que entregas autênticas estão sendo cada vez mais valorizadas, e que o domínio de ferramentas de IA para automação — delegando à tecnologia atividades realmente robóticas — é o que está diferenciando os profissionais capazes de pensar e executar, aliando-se à agilidade nas entregas.
Um estudo recente, realizado por pesquisadores do MIT, da Universidade de Stanford e da Universidade de Columbia, publicado em junho de 2025, investigou os impactos neurológicos do uso da inteligência artificial generativa em tarefas cognitivas. Intitulado “Seu cérebro no ChatGPT: Acúmulo de dívida cognitiva ao usar um assistente de IA em tarefas de redação” ², o estudo analisou a atividade cerebral de 54 adultos entre 18 e 39 anos enquanto escreviam textos com diferentes níveis de apoio tecnológico. Utilizando eletroencefalografia (EEG), os pesquisadores constataram que os participantes que utilizaram o ChatGPT apresentaram menor ativação nas regiões do cérebro responsáveis por planejamento, memória de trabalho e processamento semântico. Ou seja, pensaram menos.
Mais preocupante ainda: mesmo após deixarem de usar a IA, os cérebros continuaram operando em baixa frequência, indicando uma “inércia cognitiva”. Além disso, esses participantes tiveram mais dificuldade para recordar o conteúdo produzido e demonstraram menor diversidade argumentativa. Embora o resultado não tenha necessariamente piorado, o processo foi empobrecido — e é justamente no processo que o aprendizado real acontece.
No fim das contas, talvez a pergunta que realmente importe não seja “estou sendo monitorado?”, mas sim:
Estou entregando algo que só eu, com minha vivência, análise e senso crítico, sou capaz de entregar?
O uso da IA no ambiente de trabalho é inevitável e, em muitos casos, desejável. Mas o profissional que vai se destacar não é aquele que evita a tecnologia, tampouco aquele que se esconde atrás dela. É aquele que sabe quando usar, quando questionar e, principalmente, quando pensar por conta própria.
No mundo do trabalho atual, não basta parecer inteligente, É PRECISO SER INSUBSTITUÍVEL.
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