Depois de acompanhar mais de 180 negócios como mentora de programas de aceleração de startups, aprendi que empreender tem menos a ver com paixão e mais a ver com clareza. Quase todo mundo chega a um programa de aceleração achando que a própria ideia é maravilhosa. Que é única. Que vai mudar o mundo.
Mas não existe ideia perfeita. Existe direção, foco e estratégia.
O que mais digo nas primeiras semanas de um programa é: “não se apaixone tanto pela sua solução; apaixone-se pela direção”. A paixão cega. A direção, não. É ela que vai te lembrar onde você quer chegar — mesmo quando as coisas ficarem difíceis.
Ao longo desse caminho, o que mais aprendi não foi sobre negócios, e sim sobre gente. Sobre comportamento. Sobre o que acontece com uma empreendedora quando ela finalmente decide transformar sua ideia em realidade. No começo, todo mundo quer falar — mas poucos sabem escutar. A maioria das startups nasce de uma dor pessoal ou de um impulso de “mudar o mundo”. Mas muitas vezes o problema não é validado, o público não é compreendido, e o mercado não é escutado. Falta conversa. Falta escuta real.
Empreender com inteligência não é defender uma solução. É entender um problema. E para quem ele realmente importa.
Muitas vezes vejo negócios travarem porque o empreendedor está emocionalmente ligado demais à ideia. É aí que a estratégia falha: quando a paixão atropela o modelo de negócio. Quando falta escuta, sobra apego. Quando falta validação, sobra romantização. Nessas horas, meu papel não é dar respostas prontas, mas provocar movimento. É tentar ajudar o empreendedor a enxergar o negócio com mais verdade e menos apego. A trazer clareza sobre o que está funcionando de fato e o que é só insistência emocional. Porque empreender exige coragem não só pra começar, mas também pra ajustar a rota quando o sonho não conversa com a realidade.
Empreender também é cansativo. É solitário, às vezes. É frustrante mais vezes do que se conta. E é por isso que eu acredito que a pausa também faz parte da estratégia. Tem dias em que eu mesma preciso me retirar, silenciar o mundo, lembrar do objetivo traçado. Eu me conecto comigo mesma, revejo a trajetória, separo o ruído do que realmente importa. Nem tudo precisa de resposta imediata. Às vezes, o que a gente precisa é de silêncio.
Liderar com equilíbrio é ter maturidade pra entender que não vai dar conta de tudo. Uma agenda lotada de reuniões não forma uma boa líder. Equilíbrio é saber que o trabalho existe, mas a vida também. É respeitar os teus próprios limites — e os das pessoas que caminham contigo. Crescer com consciência exige reconhecer que o negócio vai se desenvolver junto com você. E você também está em processo.
Crescer o negócio sem se perder de si
Autocuidado não é um luxo. É um dos pilares da estratégia. Uma mente exausta não cria. Uma empreendedora cansada não inova. O autocuidado é o que sustenta o resto — é ele que permite que você esteja presente nas decisões, nas relações, nas criações. Não é sobre estar 100% do tempo dedicada ao negócio, mas sim estar 100% presente nos momentos que importam.
Se eu tivesse que resumir tudo isso em uma frase, talvez fosse essa: Leve o teu negócio com profissionalismo — mas não leve ele como causa de vida. Porque empreender com alma é lindo, mas tua vida não pode estar inteira dentro do teu CNPJ. A tua presença vale mais do que a tua perfeição. E tua estratégia começa quando tu para de tentar controlar tudo — e começa a confiar mais no processo.
Apaixone-se por ele.Pela construção. Pela escuta. Pelo silêncio. Pela intenção. Porque no fim das contas, o que sustenta um negócio não é o pitch. É a jornada.