O futuro passa diretamente pela qualidade dos talentos que estão sendo formados hoje. Essa foi a premissa do painel ‘Que amanhãs estão sendo construídos hoje na formação de talentos?’, realizado durante a Semana Caldeira, em Porto Alegre/RS. A conversa, que ocorreu nesta terça-feira, 30, no palco ARQ1 by Banrisul, no Instituto Caldeira, reuniu diferentes perspectivas sobre como educação, cultura organizacional e políticas públicas estão moldando a preparação de profissionais para um mercado em constante transformação.
Participaram do painel a gerente de Operações do Instituto SESI de Formação de Professores, Ecléia Conforto, a coordenadora Acadêmica da FIAP ON, Evelyn Cid e a secretária Extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade do Rio Grande do Sul, Lisiane Lemos. A mediação ficou por conta da gerente Educacional do Campus Caldeira, Juliana Vieira.
Para Evelyn, a ideia de um ‘apagão de talentos’ precisa ser ressignificada. “Não é falta de jovens, mas sim um desencontro entre o que se entende como talento e o que o mercado espera. Hoje, não basta conhecimento técnico. Criatividade, trabalho em equipe e capacidade de adaptação são fundamentais”.
Esse alinhamento também exige mudanças dentro das empresas, como destacou Lisiane Lemos. “O apagão muitas vezes é o jovem recusando vagas em organizações que não estão alinhadas com seus valores. Cultura e propósito são parte do futuro da formação profissional”.
Inteligência artificial X habilidades humanas
Para Ecléia, o impacto da inteligência artificial (IA) pode ser visto como um divisor de águas, uma vez que o papel da tecnologia é inescapável, mas deve estar a serviço da criatividade e da aprendizagem contínua. “As habilidades técnicas podem ser substituídas, mas as humanas crescem em importância. Resolução de problemas, negociação e pensamento crítico são competências que não serão substituídas”.
Na mesma linha, Evelyn destacou a necessidade de novas metodologias educacionais. Na FIAP, avaliações tradicionais deram lugar a challenges e projetos reais em parceria com empresas. “Não existe mais prova. Os alunos resolvem problemas conectados a ODS e a desafios de mercado, aprendendo a aplicar o que sabem em cenários complexos”.
Para Lisiane Lemos, a construção do futuro do trabalho precisa incluir grupos historicamente excluídos da tecnologia. “Eu nunca me imaginei em empresas como Microsoft ou Google porque não via pessoas como eu nesses lugares. Hoje, nosso papel é garantir que jovens negros, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQIA+ também se enxerguem nesse futuro”.
Como exemplo, a secretária Extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade do RS citou os Centros da Juventude, espaços instalados em territórios vulneráveis no estado, que oferecem formação tecnológica e atividades culturais. “A gente só sonha com o que vê. É preciso criar pontes para que jovens periféricos conheçam carreiras digitais e acreditem que podem fazer parte delas”.
Representando o Instituto Caldeira, Juliana reforçou o papel do ecossistema em ampliar o repertório dos estudantes. “Muitos jovens não conhecem sequer os nomes das profissões ligadas à tecnologia. Iniciativas como o Geração Caldeira ajudam a despertar interesse e a traduzir possibilidades concretas”.
Reaprender sempre
As falas no painel convergiram em um ponto central: formar talentos para o futuro exige reaprender constantemente. Professores precisam rever práticas, alunos devem desenvolver maturidade no uso da tecnologia e empresas precisam rever culturas e processos. “A capacidade de aprender, desaprender e reaprender talvez seja a principal habilidade que temos que estimular”, resumiu Ecléia.
A Semana Caldeira segue até sexta-feira, 3. Confira a programação completa aqui.