Participar do Web Summit Lisboa 2025 foi uma experiência reveladora para quem, como eu, acompanha a dinâmica de inovação no Brasil. A edição deste ano do Summit reuniu um público recorde: cerca de 71.386 participantes de 157 países, com 1.857 investidores de 86 nacionalidades, o maior número de investidores da história do evento. Além disso, foram registradas mais de 2.700 startups de 108 países presentes.
Dentro desse contexto global, o Brasil marcou presença com uma delegação expressiva: 340 startups e empresas inovadoras foram selecionadas para representar o país no Summit, por meio de uma articulação da ApexBrasil, do Sebrae e de parceiros como estatais e associações de fomento.
A delegação brasileira é vista como retrato da diversidade de regiões e setores: healthtechs, fintechs, deeptechs, agrotech, edtech e muito mais, o que demonstra a amplitude do ecossistema nacional.
Essa presença maciça do Brasil no Web Summit contrasta com a realidade típica dos eventos de inovação nacionais. Nos grandes encontros internos, sejam regionais ou nacionais, normalmente há uma ampla diversidade de estágios de maturidade entre startups: desde ideias iniciais até empreendimentos em fase de tração. A diversidade é importante, mas isso também revela um ecossistema com variabilidade grande de maturidade, com muitas iniciativas ainda em fase de projeção. No Web Summit, porém, grande parte das startups presentes e, de fato visadas, parece estar em um patamar mais maduro: com modelagem de negócio mais consolidada, métricas claras de tração ou receita, prontas para escalar, internacionalizar ou captar investimentos mais robustos.
Essa diferença de maturidade se reflete na própria curadoria e no perfil de participantes: investidores internacionais, empresas globais de tecnologia, players de venture capital, fundos e stakeholders de mercados globais caminham lado a lado, o que cria um ambiente mais exigente em termos de viabilidade, impacto real e profissionalismo de negócios. A escala e a intensidade desse ecossistema global exigem que a startup não apenas tenha uma boa ideia, mas um produto/serviço com evidências de mercado, métricas de performance e modelo consolidado.
No plano de conteúdo, o Web Summit também dá sinais claros de que muitos dos “temas de vanguarda” já se tornaram mainstream entre os participantes: inteligência artificial, uso intensivo de dados, automação, digitalização de processos, soluções profundamente tecnológicas e escaláveis. A própria ênfase do evento nestas áreas tem atraído empresas consolidadas, e não apenas “novas ideias”. Esse comportamento contrasta com o perfil dos eventos brasileiros, onde é comum ter programas de capacitação, pitchs para startups em fases iniciais, networking local e formação de ecossistemas ainda incipientes.
Além disso, e algo que também percebi de perto, a visão sobre trabalho e empregabilidade no contexto tecnológico parece já estar bem mais madura entre os públicos do Web Summit: há reconhecimento de que muito do que era manual ou repetitivo já se automatizou e, por isso, o foco agora recai sobre competências humanas, criatividade, adaptação, visão estratégica, habilidades que a automação não substitui com facilidade. Esse entendimento mais avançado sobre o papel da tecnologia no trabalho sugere que, no exterior, muitos já operam com um mindset de “tecnologia como amplificadora de capacidade humana”, algo que ainda é inseguro ou menos explorado em muitos segmentos no Brasil.
Outro ponto importante é a visibilidade internacional e a oportunidade real de expansão de mercado. Para startups brasileiras, estar no Web Summit é uma vitrine global, não apenas para buscar investimento, mas para prospectar mercados fora do Brasil, testar aceitação internacional, buscar parcerias estratégicas e entender padrões globais de competição. Isso contrasta com o perfil mais local ou regional dos eventos nacionais, que têm relevância para o ecossistema interno, mas raramente proporcionam esse grau de exposição internacional.
Em síntese, o Web Summit 2025 evidencia com clareza um distanciamento, não apenas geográfico, mas de maturidade entre o que está consolidado internacionalmente e o que ainda se estrutura no Brasil. Esse distanciamento não é uma crítica destrutiva, mas um termômetro. Mostra onde o ecossistema nacional pode mirar: mais foco em maturidade, métricas, profissionalização, internacionalização e formação de competências, tanto técnicas quanto humanas, para competir globalmente.
Para quem acompanha de perto o ecossistema brasileiro e tem ambições de internacionalização, o Web Summit deixa claro que o caminho exige algo além de boas ideias: requer preparo, validação, visão de longo prazo e capacidade de operar num nível global. A participação brasileira massiva em 2025 dá esperança de que esse processo de amadurecimento está em curso, mas a lacuna ainda existe, e os desafios são grandes.

