Nos últimos meses, percorri diversos estados brasileiros para capacitar equipes em diretrizes e boas práticas ESG (Ambiental, Sociel e Governança). Essa jornada me fez refletir sobre o que realmente move as organizações: é a estrutura física ou a humanização do espaço?
Durante uma das viagens, no Aeroporto de Brasília, um dos mais modernos e importantes do país, vivi uma cena que me marcou muito. Era uma manhã, enquanto eu aguardava meu voo, aproveitei para encontrar uma bancada para responder aos e-mails mais urgentes. Aos meus pés, o chão era limpo, o ar condicionado agradável. Mas, ao olhar para o corredor atrás das lanchonetes, meu coração se apertou.
Lá estavam trabalhadores deitados, dormindo, descansando. Mulheres e homens que começaram suas jornadas às 5h da manhã, agora precisavam de um minuto para recarregar as energias. Eram 10h da manhã, e o aeroporto, com sua arquitetura imponente e tecnologia de ponta, não tinha um espaço sequer para que eles descansassem com dignidade.
A Contradição que Não Deve Existir
O Aeroporto de Brasília é um cartão postal da engenharia brasileira. Tem salas de reuniões, lounges VIP, áreas de lazer e até um jardim zen. Mas, para quem faz a engrenagem funcionar, os seguranças, os operadores de carga, os funcionários de limpeza, não há um banco, um sofá, uma sombra.
Isso não é apenas uma falha de infraestrutura. É um desrespeito à condição humana. O ESG, que prega a responsabilidade social e ambiental, não pode ser apenas um relatório anual. Ela deve ser a alma da organização.
Por Que Isso Importa?
 Empatia como Fundamento ESG
O ESG não é uma checklist. É uma filosofia de respeito. Se uma empresa diz que valoriza a sustentabilidade, mas ignora a saúde e o bem-estar de seus colaboradores, ela está fazendo ESG de forma vazia.
- A Rotina que Não Vemos
 
Esses trabalhadores são a espinha dorsal do sistema. Sem eles, aviões não decolam, bagagens não são entregues, e o fluxo de passageiros se interrompe. Mas, na hora de projetar espaços, eles são invisíveis.
- O Custo do Desrespeito
 
A falta de empatia tem consequências reais:
- Rotatividade alta de profissionais essenciais.
 - Desgaste físico e mental que afeta a produtividade.
 - Reputação fragilizada perante a sociedade.
 
A cena que vivi no aeroporto não é única. Ela se repete em fábricas, hospitais, shoppings e até em escritórios. A pergunta que todos devemos nos fazer é:
👉 “Quem são os que ficam para trás quando a organização avança?”
A resposta está em pequenas ações que podem transformar grandes sistemas:
- Criar espaços de descanso para todos os colaboradores, independentemente do cargo.
 - Investir em programas de saúde mental e reconhecimento.
 
A ESG do futuro não será medida apenas por metas de redução de carbono ou certificações internacionais. Será avaliada pelo olhar que temos para quem está ao nosso lado.
No Aeroporto de Brasília, a solução não é complicada. Basta reservar um canto, um banco, uma sombra, um copo de água, para aqueles que garantem que o sistema funcione. Isso não custa milhões. Custa consciência.
Quando olhamos para aquele corredor, vemos mais do que um espaço com pessoas amontoadas de qualquer jeito no chão. Vemos o que falta para que o ESG seja verdadeira. E, acima de tudo, vemos um convite para repensar o que realmente importa.
Porque a maior inovação não está em tecnologia. Está em empatia.

