
Pouco mais de um ano depois das enchentes que devastaram parte do Rio Grande do Sul e deixaram o Instituto Caldeira submerso, o espaço reafirma sua capacidade de superação e protagonismo no ecossistema de inovação. Nesta semana, o instituto recebeu mais de 15 mil pessoas para a quarta edição da Semana Caldeira, evento que se consolida como um dos principais encontros de inovação e empreendedorismo do estado.
Ao longo de cinco dias, foram mais de 400 palestras e painéis, distribuídos em sete espaços simultâneos, que geraram mais de 2 mil conexões entre empresas, organizações e profissionais. O diretor do Campus Caldeira, Felipe Amaral, explica que a programação conectou negócios, inovação e educação. “A Semana Caldeira é um evento muito especial para a gente este ano. É um momento para reunir diferentes setores, trocar experiências e, principalmente, discutir como podemos contribuir para o desenvolvimento do país a partir da inovação”. Ele também destaca que a diversidade de pautas marcou a edição deste ano, com temas que foram de economia e tecnologia à formação de talentos e histórias inspiradoras.
Educação e produtividade no centro da agenda
No painel Brasil 2030, os economistas Mansueto Almeida (BTG Pactual) e Aod Cunha (ex-secretário da Fazenda do RS) alertaram para os impactos do envelhecimento populacional e defenderam a educação como motor de produtividade. “O normal do Brasil daqui para frente será uma força de trabalho menor, e o crescimento dependerá essencialmente da produtividade”, disse Mansueto. Já Cunha reforçou que “colocamos as crianças dentro da sala de aula, mas agora precisamos garantir que elas aprendam mais. Isso é produtividade na veia”.
Formação de talentos
O painel “Que amanhãs estão sendo construídos hoje na formação de talentos?” reuniu a gerente de Operações do Instituto SESI de Formação de Professores, Ecléia Conforto, a coordenadora Acadêmica da FIAP ON, Evelyn Cid e a secretária Extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade do Rio Grande do Sul, Lisiane Lemos. As falas convergiram na ideia de que preparar profissionais para o futuro exige reaprender constantemente e alinhar valores entre jovens, empresas e sociedade. “As habilidades técnicas podem ser substituídas, mas as humanas crescem em importância. Resolução de problemas, negociação e pensamento crítico são competências que não serão substituídas”, destacou Ecléia.
WhatsApp como plataforma de negócios
A transformação digital também esteve em pauta. O head do WhatsApp para mercados estratégicos, Guilherme Horn, destacou como o Brasil se tornou laboratório global da empresa, com startups que já nascem dentro do mensageiro. “Hoje já temos empresas que funcionam 100% dentro do WhatsApp, atendendo clientes, vendendo produtos e recebendo pagamentos sem sair do app”.
Inspiração e carreira com Tinga
Entre os momentos de maior proximidade com o público, esteve o painel com o ex-jogador Paulo César Tinga, em conversa com jovens do programa Geração Caldeira. Ao relembrar sua trajetória da periferia ao empreendedorismo, ele destacou disciplina, curiosidade e educação como motores de transformação. “O que move o mundo são perguntas. O que move o mundo é a curiosidade”, afirmou.
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Startups brasileiras em escala global
Os dilemas e conquistas de empreendedores também ganharam espaço. Em painéis como “De Empreendedores a Multipliers” e “Da Garagem ao Mundo”, fundadores de empresas como Omie, Swap, Azion, Rocket.Chat e Zenvia compartilharam lições sobre resiliência, capital, cultura e inovação. “Empreender no Brasil é dobrar a conta: não são cinco, mas dez anos de sofrimento até chegar a uma base sólida”, resumiu Rafael Umann, da Azion.
Inteligência artificial e impacto estratégico
As aplicações da IA estiveram presentes em diferentes debates, incluindo pesquisas apresentadas por Dell e Intel e análises de especialistas da SAP e NVIDIA. Dados revelaram que 98% das empresas já percebem ganhos de eficiência com o uso da tecnologia, mas a falta de governança de dados e cultura digital ainda limita o impacto estratégico. “A IA hoje é 50% humano e 50% máquina. A máquina não faz sozinha. Se ela fizer, é melhor começar a se preocupar”, disse Márcio Aguiar, da NVIDIA.