A concentração das infraestruturas de inteligência artificial (IA) em poucas empresas globais, como OpenAI, Microsoft, Google e Amazon, representa um risco direto à autonomia tecnológica do Brasil e de outros países, alertou, na última quinta-feira, 18, o Chief Scienti da TDS Company, Silvio Meira, durante o Fórum Executivo do The Developers Conference (TDC) São Paulo 2025. Para o cientista, o domínio dessas big techs sobre os modelos de linguagem e plataformas que sustentam a nova economia digital cria barreiras quase intransponíveis para novos entrantes. “Na medida em que as pessoas aprendem a usar APIs de grandes modelos, elas criam dependências estruturais. Isso estabelece custos de saída altíssimos e trava a concorrência”, explicou.
No painel de perguntas e respostas, executivos e especialistas levantaram preocupações sobre como o Brasil pode enfrentar esse cenário. A resposta de Meira foi clara: o país precisa articular esforços conjuntos entre governo, bancos públicos, setor privado e universidades para desenvolver modelos de IA próprios e reduzir a dependência externa. Ele citou, como exemplo, que uma pequena fração do lucro do sistema financeiro nacional já seria suficiente para financiar o desenvolvimento de modelos linguísticos “Made in Brasil”.
Além da questão econômica, a soberania digital toca em aspectos estratégicos e geopolíticos. Meira lembrou que a China, por exemplo, determinou que suas big techs expandissem operações no Brasil justamente para evitar a dependência de dados hospedados nos Estados Unidos. “No Brasil, falta articulação. Temos capacidade técnica, temos instituições fortes, mas não temos estratégia integrada”, afirmou.
O risco de dependência tecnológica vai além da economia: pode afetar desde a educação até a segurança nacional. Plataformas e algoritmos sob controle estrangeiro concentram poder de decisão em empresas que não respondem aos interesses locais. “Sem uma estratégia nacional, vamos continuar apenas consumindo IA estrangeira, sem capacidade de definir nossos próprios rumos”, alertou Meira.
No TDC São Paulo 2025, o debate sobre soberania digital mostrou-se urgente. Para Meira e para muitos dos participantes, o Brasil está diante de uma escolha histórica: ou assume protagonismo e constrói sua própria infraestrutura tecnológica, ou aceita ser apenas um usuário passivo das soluções criadas por outros.