A inteligência artificial deixou de ser apenas promessa para se tornar fator central nas decisões estratégicas de empresas brasileiras. No Fórum Executivo do The Developer’s Conference (TDC) São Paulo 2025, líderes de setores como finanças e saúde compartilharam, na última quinta-feira, 18, experiências sobre como a tecnologia já impacta produtividade, eficiência e modelos de negócio, ao mesmo tempo em que desafia gestores a equilibrar investimentos diante de pressões financeiras. A palestra do Chief Disruption Office da Deloitte, Jefferson Lopes Denti, trouxe um panorama de maturidade da IA generativa nas organizações e reforçou a necessidade de conectar tecnologia com estratégia. Segundo ele, a questão não é mais escalar projetos, mas transformar modelos operacionais. “Toda reunião hoje tem IA, mas poucos estão transformando com IA”. Ele também destacou que 26% dos executivos já conduzem iniciativas de agentes de IA e que, em breve, um terço das plataformas de mercado deve ter essa tecnologia embutida.
No painel seguinte, executivos reforçaram a visão de que o desafio não está apenas na aposta em inovação, mas em como integrá-la de forma sustentável. Para o diretor de Tech da XP Inc., Marino Aguiar, investir em contraciclo é estratégico. “Estamos em um momento de aprendizado, mas acreditamos em soluções práticas, que resolvam problemas reais e liberem tempo do humano para gerar valor”. Ele explicou o conceito de co-pilot para assessores e reverse co-pilot para áreas operacionais, ilustrando como a IA pode equilibrar eficiência e proximidade com o cliente.
Já o CIO do Santander e CEO da F1RST Digital Services, Richard Flavio da Silva, ressaltou a velocidade como imperativo competitivo. “Negociar a velocidade hoje é perder mercado”. Segundo ele, a única forma de lidar com riscos em escala é usar IA para monitorar a própria IA, criando sistemas de “guardiões digitais” que regulam processos automatizados. O executivo destacou ainda ganhos expressivos em projetos de conversão de linguagens de programação, que alcançaram 98% de acurácia com custos reduzidos.
No setor de saúde, o diretor executivo de negócios da RD Saúde, Alexandre Tarifa, apontou que a transformação digital ainda engatinha, mas que a IA representa uma oportunidade única. “É quase a única chance de repensar o setor”. Ele lembrou que telemedicina só avançou quando a pandemia impôs sua adoção, e destacou que a inteligência artificial pode acelerar mudanças semelhantes, tornando serviços mais acessíveis e baratos.
Apesar dos avanços, todos os executivos reforçaram que retorno financeiro não é imediato. Para Denti, da Deloitte, exigir ROI rápido de projetos de IA repete erros do passado, como aconteceu nos primeiros anos do e-commerce. “O impacto transformador só aparece quando se criam casos de uso inéditos, que mudam setores inteiros”.
O consenso entre os participantes é que dados, governança e pessoas são os pilares que sustentam a próxima fase de adoção. “Não dá para dissociar tecnologia de modelo de negócio”, resumiu Richard da Silva. Já Tarifa lembrou que a formação de desenvolvedores não difere entre setores, mas o baixo investimento em saúde limita o avanço.
No encerramento, ficou claro que o dilema não é apenas onde investir, mas como equilibrar inovação, eficiência e tempo de maturação dos projetos. Para Aguiar, da XP, é preciso distribuir recursos entre inovação, eficiência operacional e segurança. Para Tarifa, o desafio é alinhar expectativas sobre o tempo de retorno. E para Richard, a prioridade é garantir que a adoção não comprometa os fundamentos cognitivos do trabalho humano.
O Fórum Executivo do TDC SP 2025 mostrou que, embora a inteligência artificial esteja cada vez mais presente nas organizações, sua consolidação como motor de transformação depende de decisões estratégicas que combinam tecnologia, negócio e visão de longo prazo.
IA em ação: como empresas brasileiras estão transformando negócios e investimentos

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