Nos últimos anos, o cenário da inovação tem sido dominado por eventos, painéis lotados, pitches vibrantes, rodadas de conexão. É um espetáculo inspirador que chama a atenção e parece prometer transformações.
E, sim, estar presente nesses espaços é importante. Como lembra Henry Chesbrough: “nenhuma empresa é uma ilha”. A conexão é o primeiro passo. Mas corremos o risco de confundir participar de eventos com inovar de fato dentro da organização.
Mas será que estamos tomados por eventos e isto está ocasionando a falta de ação no dia a dia?
Dados do IBGE mostram que, em 2022, indústrias brasileiras de médio e grande porte investiram R$ 36,9 bilhões em P&D, representando cerca de 0,65% da receita líquida de vendas. Isso mostra que existe investimento, mas será que ele chega aos processos e à cultura? Além disso, o uso de tecnologias digitais era adotado por 84,9% dessas indústrias.
Se por um lado é um avanço, por outro revela que ainda há uma distância entre adoção tecnológica e inovação consolidada.
No mesmo estudo, o IBGE registrou uma redução nos processos inovativos: em 2023, apenas 51% das empresas industriais implementaram melhorias em seus processos de negócio, uma queda em comparação com 57,9% em 2021. Ou seja, participar de eventos não tem se traduzido em transformação prática, pelo menos não com o ritmo ideal.
E como fica a tão falada inovação aberta neste cenário?
No Brasil, 88% das empresas já participaram de iniciativas de inovação aberta, segundo levantamento da Softex. Dessas, 76% realizaram investimentos próprios em inovação e 62,5% adotaram programas de intraempreendedorismo. E o principal modelo de colaboração com startups foi a prova de conceito, usado por 91,9% dos respondentes.
Esses dados mostram que muitas empresas já se movimentam além do palco, experimentando dentro de casa. Ainda assim, há um caminho considerável para transformar isso em rotina sustentável e estratégico.
Na outra ponta, programas estruturados como os da EMBRAPII apresentam resultados concretos. Até o fim de 2024, a organização contratou R$ 5,75 bilhões em projetos de inovação industrial, só em 2024 foram R$ 1,14 bilhão, com 640 novos projetos, apoiando 642 empresas, das quais 66% eram estreantes nesse ecossistema.
Isso mostra que inovação não se faz só com ideias: é preciso apoio estruturado, investimento consistente e uma rede colaborativa que inclua pequenas e médias empresas, além de centros de pesquisa.
Mas, voltando à provocação real, eventos são como faíscas: criam luz, chamam atenção, inspiram conexão. Mas fanfarra não gera progresso estrutural.
E a pergunta que cada empresa, ou melhor, cada pessoa deveria fazer não é: “Quantos eventos de inovação eu fui este ano?” e sim: “O que eu fiz, depois de cada evento, para inovar de verdade dentro de casa?” Inovação exige continuidade: testar, melhorar processo, aprender com falhas, investir em gente, acolher ideias, revisitar práticas que já não fazem mais sentido.
Fontes
https://www.ibge.gov.br/estatisticas
https://inovativos.com.br
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br