Cidades mais interessantes, não apenas inteligentes: painel no Palco Sebrae discute colaboração na saúde pública

Pedro Barbosa - editor

A gente precisa de cidades mais interessantes, não apenas inteligentes”. A frase, dita pelo diretor de Operações da Sisqualis, Guilherme Barros, nesta quarta-feira, 4, ao final do painel ‘Inovação Colaborativa – Governança, Startups e Saúde’, no Palco Sebrae da Gramado Summit 2025, resume o espírito da conversa entre gestores públicos, iniciativa privada e representantes do ecossistema de inovação em saúde.

Com mediação do Head de Inovação e Consultoria do Hospital Moinhos de Vento, Thomas Andres Troian, o painel também contou com a participação da gestora de Projetos do Gabinete da Inovação da prefeitura de Porto Alegre, Joana Baleeiro Passos, para debater como a colaboração entre diferentes atores é essencial para transformar o setor, especialmente quando o paciente, que deveria ser o centro de tudo, continua sendo deixado de lado em muitos processos.

Joana compartilhou experiências práticas do Gabinete de Inovação de Porto Alegre, como o Decreto das Portas Abertas, que permite testar soluções inovadoras dentro da estrutura pública, e parcerias com o Senai para selecionar e capacitar startups. Apesar dos avanços, ela reconhece que o maior desafio não está na tecnologia, mas na mudança de cultura institucional. “Não é simples. Às vezes levamos quatro anos para conseguir assinar um termo de cooperação. Mas conseguimos desmistificar muita coisa. E isso só acontece com diálogo e confiança”.

“Não existe bala de prata. São muitos pequenos movimentos que fazem a roda girar”, resumiu Barros, ao falar sobre os desafios enfrentados por pequenas empresas e startups que tentam inovar dentro de um sistema de saúde marcado por burocracia, fragmentação e escassez de recursos.

A tecnologia é meio, não fim

Os painelistas reforçaram que inovação não se limita a implementar ferramentas digitais. No setor da saúde, a realidade é ainda mais complexa: envolve dados sensíveis, interoperabilidade entre sistemas e uma resistência natural a mudanças rápidas. “Na saúde, a gente precisa provar mais. Não é só empolgação. É responsabilidade com vidas”, observou Barros.

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD, frequentemente vista como barreira, foi apresentada como oportunidade: um instrumento para estruturar processos com mais segurança, não como justificativa para paralisar iniciativas. Além disso, o painel reforçou a necessidade de formar redes de colaboração com foco em construção conjunta de soluções, que não apenas resolvam problemas técnicos, mas considerem as dores reais dos usuários e servidores públicos. “Muitas vezes, o problema não é a ferramenta, mas sim, a falta de sensibilização. O servidor está sobrecarregado, desconfiado. Antes de levar a solução, é preciso escutar e construir confiança”, apontou Joana.

Com a hiperconectividade, a aceleração dos dados e o avanço da inteligência artificial (IA), os painelistas concordaram que a complexidade do sistema exige respostas compartilhadas. “A gente está falando de cidades com mais tecnologia, sim, mas também com mais empatia. De nada adianta um app incrível se ninguém confia ou consegue usar”, concluiu Troian.

A conversa no Palco Sebrae demonstrou que, no fim, inovação real em saúde começa com relações humanas mais sólidas, processos menos engessados e uma visão de longo prazo em que escutar, adaptar e insistir contam mais do que qualquer algoritmo.

Por Pedro Barbosa editor
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Jornalista e Mestre em Comunicação, ambos pela Unisinos. Possui pós-graduação - MBA em Design Digital e Branding e pós-graduação em Gestão da Tecnologia da Informação, ambos pela Uninter. Já atuou no setor público e privado, tendo trabalhado no governo do Estado do Rio Grande do Sul, com deputados estaduais, federais, no Jornal NH e no Parque Tecnológico São Leopoldo - Tecnosinos.
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