Senado deve votar nesta terça-feira regulamentação do uso de inteligência artificial (IA) no Brasil

Proposta inclui regras para IA de alto risco e criação de um sistema nacional de governança.Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.

O Senado Federal deve votar nesta terça-feira, 10, o Projeto de Lei (PL) 2.338/2023, que estabelece regras para o uso e o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) no Brasil. A sessão deliberativa está marcada para as 14 horas. O projeto é um dos sete itens da pauta.

Proposto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o texto tramita em regime de urgência e foi relatado pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO). Após meses de negociação e resistências, o relatório foi aprovado na última semana pela Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA), criada para analisar a matéria.

O que prevê o projeto

O PL 2.338/2023 apresenta as definições de sistemas de inteligência artificial, os papéis dos agentes de IA (desenvolvedores, distribuidores e aplicadores da tecnologia) e regula a utilização de “conteúdos sintéticos” — imagens, vídeos, áudios e textos criados ou alterados por IA.

O projeto também estabelece parâmetros para identificar sistemas de alto risco, definidos como aqueles com potencial de impacto negativo significativo para pessoas ou grupos. São exemplos:

  • Operação de infraestruturas críticas;
  • Processos de seleção e avaliação;
  • Administração da Justiça;
  • Veículos autônomos em espaços públicos;
  • Aplicações na área da saúde.

Uma das principais inovações da proposta é a criação do Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (SIA), que será coordenado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

O texto ainda reforça a proteção dos direitos autorais, prevendo que os agentes de IA remunerem pelo uso de conteúdos protegidos em seus sistemas de treinamento e desenvolvimento.

Negociações e controvérsias

Desde o início do ano, o projeto enfrentou resistência tanto de parlamentares da oposição quanto de representantes do governo. Integrantes da oposição criticaram a inclusão de trechos que, segundo eles, poderiam restringir o desenvolvimento tecnológico e a liberdade de expressão. Já o governo defendeu mudanças relacionadas aos direitos autorais e à remuneração pelo uso de conteúdos.

Para conciliar as demandas, o relator Eduardo Gomes apresentou seis versões de seu parecer e alterou o texto para incluir a garantia de proteção aos direitos autorais, além de temas como propriedade intelectual e segredo comercial e industrial.

Outro ponto de debate é a exclusão dos algoritmos das redes sociais da lista de sistemas considerados de alto risco, decisão que gera críticas e preocupações sobre transparência e responsabilidade.

Impacto esperado

Segundo Eduardo Gomes, o texto busca equilibrar a garantia de direitos fundamentais com o estímulo ao desenvolvimento tecnológico. “Nosso objetivo é criar um marco regulatório que preserve direitos e incentive a inovação, posicionando o Brasil como um protagonista na regulação ética e eficiente da inteligência artificial”.

A aprovação do projeto é considerada prioritária pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e foi baseada em um anteprojeto elaborado por uma comissão de juristas criada em 2022.

Próximos passos

A oposição e o governo já indicaram a possibilidade de apresentar destaques ao texto durante a votação, o que pode resultar em ajustes finais antes de sua aprovação. Caso o projeto seja aprovado, o Brasil terá um dos primeiros marcos regulatórios específicos para inteligência artificial na América Latina, alinhado às discussões globais sobre governança e ética na tecnologia.

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sair da versão mobile