Vinte e dois anos separam a criação do Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, da inauguração da estátua em homenagem ao líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência negra contra a escravidão no Brasil. O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, ganhou um significado ainda mais profundo este ano, ao ser reconhecido pela primeira vez como feriado nacional. Mais do que uma lembrança histórica, a data foi uma oportunidade para refletir sobre as lutas por igualdade racial e, também, olhar para o futuro.
A startup de realidade aumentada Ibiama, sediada no Tecnopuc, desenvolveu um conteúdo de informação utilizando RA, através do smartphone, que permite aos visitantes conhecer mais sobre a história do líder negro. A CEO da empresa, Aline Santos Barbosa, destacou a importância da iniciativa. “Queremos que a tecnologia tenha impactos benéficos a sociedade. Esse é marco histórico, uma vez que estamos levando conhecimento contextualizado a um espaço público, com acesso democrático. Todo o celular que está sendo utilizado e, não importa o celular, vai conseguir ler um conteúdo associado a imagem do Zumbi”.
Aline explica que a experiência de realidade aumentada é baseada no uso de smartphones, onde o processo é dividido em duas leituras, a partir da placa: uma leitura pelo QR Code, que leva a um repositório de informações armazenadas online e, outra leitura acontece por meio de um marcador, onde é possível navegar por cada conteúdo específico.
Conectividade acessível
De acordo com o Chief Legal Officer (CLO) do Ibiama, Bernardo Bonifácio Ferreira, o projeto foi desenvolvido com o objetivo de permitir o acesso a diferentes pessoas, de diferentes origens, utilizando a tecnologia que está na palma da nossa mão. “A partir da realidade aumentada, é possível acessar conteúdos e informações acerca desse personagem relevantíssimo na história do país e que impulsionou uma série de mudanças a partir da luta racial e da luta antirracista no Brasil”.
Bonifácio explicou que o projeto levou em consideração o Privacy by Design, uma metodologia que visa proteger a privacidade dos dados pessoais desde o início do desenvolvimento de produtos ou serviços. “A experiência foi construída de forma inovadora, utilizando uma tecnologia que permite a captação e projeção direta pelos navegadores, sem recorrer às formas tradicionais de coleta de dados. Por ser uma estátua no espaço público, a tendência é que diversos usuários utilizem”.
Para ele, essa abordagem permite maior segurança e praticidade, ao mesmo tempo em que respeita a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). “O principal foco foi garantir que os cidadãos não tenham seus dados sensíveis captados, respeitando assim a privacidade e a legislação vigente”.
Saiba mais
Com 2,40 metros de altura e confeccionada em cobre, a escultura de Zumbi dos Palmares agora ocupa lugar de destaque no Largo em frente a outro monumento, que remete à lança de Zumbi, erguido do outro lado da avenida Loureiro da Silva em 1997. A escultura é criação do renomado artista uruguaio Mario Cladera, radicado em Porto Alegre desde 1978, com colaboração da paisagista Marcia Baggio e do professor Manoel José Ávila.
Além da estátua, o Largo Zumbi dos Palmares recebeu um totem assinado por Eduardo Angel Sats, artista e educador social de Porto Alegre. A peça homenageia o poeta, professor e ativista Oliveira Silveira (1941-2009), figura central na escolha do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. A instalação reforça o legado do Grupo Palmares, movimento que Oliveira Silveira integrou, e celebra o papel da arte na valorização da identidade afro-brasileira.
O projeto, que levou cerca de um ano para ser desenvolvido e custou R$ 200 mil, foi custeado com dinheiro da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, por meio de emendas parlamentares. A iniciativa no legislativo municipal começou pelo então vereador Alberto Kopittke (PT), em 2015, que apresentou projeto propondo a obra de arte no largo. No entanto, a matéria foi engavetada. Em 2022, a vereadora Karen Santos (PSOL) desarquivou o texto, que foi aprovado pelo plenário em novembro daquele ano.