O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino é celebrado hoje, 19 de novembro, com o objetivo de destacar a importância das mulheres no mundo empresarial. Criada há uma década pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data busca promover a igualdade de oportunidades, incentivar a criação de negócios liderados por mulheres e apoiar sua atuação no mercado de trabalho.
As mulheres representam 54,6% dos 47,7 milhões de brasileiros que pretendem empreender no Brasil até 2026, conforme aponta a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a maior pesquisa mundial sobre empreendedorismo. Além de destacar a presença feminina, o estudo conduzido pela Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe) em parceria com o Sebrae, revela que grande parte dos novos empreendedores no país é composta por jovens com até 34 anos, sendo predominantemente pessoas pretas e pardas.
De acordo com a gestora de startups do Sebrae Startups, Cristina Mieko, os números destacam a importância contínua de apoiar e promover o empreendedorismo feminino, bem como a necessidade de aumentar a representatividade das mulheres no cenário de startups. “Eventos como o Startup Summit podem ajudar a fomentar o empreendedorismo feminino ao proporcionar visibilidade para as femtechs e suas fundadoras. A participação em painéis, palestras e workshops permite a troca de experiências, networking e acesso a investidores”.
Sediada no Tecnopuc, a startup de realidade aumentada Ibiama atua com foco na inclusão de conteúdos de informação utilizando RA, através do smartphone, oportunizando experiências presenciais em tempo real, sejam de cunho cultural (observação de um monumento, de uma obra de arte no museu, de um show ao vivo), educacional (auxiliando o professor) ou comercial (inserção de produtos em ambiente real, informações sobre o produto). Para a CEO da empresa, Aline Santos Barbosa, celebrar a data é essencial porque, embora as mulheres representem a maioria dos empreendedores no Brasil, muitas atuam em condições de baixa rentabilidade e enfrentam desafios estruturais significativos. “As empreendedoras são a força mais expressiva dentro do empreendedorismo nacional, mas a visibilidade dessa força não deveria se restringir a um único dia no ano, e sim ser trabalhada continuamente”.
Aline entende que a principal diferença entre homens e mulheres no empreendedorismo está nas estruturas que sustentam esse trabalho. “O empreendedorismo feminino no Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Sem estruturas que acolham e sustentem as mulheres em todas as suas dimensões, incluindo o papel de mães e provedoras, fica muito difícil que o esforço e a dedicação das empreendedoras sejam devidamente valorizados, remunerados e visibilizados. Por isso, datas como esta são importantes para trazer luz ao tema e impulsionar mudanças concretas”.
Ladies in Tech: fortalecendo startups lideradas por mulheres
De acordo com o relatório Startup Landscape: Lideranças Femininas 2024, elaborado pela Liga Ventures, apenas 31% das startups brasileiras possuem ao menos uma mulher no quadro societário. O levantamento, que teve como amostra 3.998 empresas, indica que apenas 22% do volume de investimento captado por startups em 2023 teve como destino empresas com liderança feminina.
Para enfrentar essas dificuldades, muitas empreendedoras buscam se inspirar em histórias de outras mulheres que já percorreram esse caminho de forma bem-sucedida. Um exemplo é o Ladies in Tech, que surgiu há três anos em Porto Alegre (RS), com o intuito de oferecer um espaço seguro e de apoio às mulheres empreendedoras no setor de tecnologia. A comunidade incentiva a troca de experiências e o desenvolvimento dos negócios fundados e liderados por mulheres, proporcionando um ambiente sem julgamentos. Atualmente, o movimento conta com 300 integrantes em 45 cidades brasileiras, além de ter integrantes em Portugal e na Alemanha.
Segundo a co-fundadora e diretora executiva do Ladies in Tech, Aline Busch, a data é importante para relembrar as conquistas que as mulheres alcançaram e os desafios que ainda enfrentam. “Apesar dos avanços, a equidade de gênero ainda está longe de ser uma realidade. Por exemplo, apenas 10% dos CEOs no mundo são mulheres, e menos de 2% do investimento em startups é destinado a negócios liderados por mulheres em todo o mundo. Esses números evidenciam a disparidade entre empresas lideradas por homens e aquelas lideradas por mulheres”.
Liderando o movimento em Portugal, a também co-fundadora e diretora executiva do Ladies in Tech, Marceli Brandenburg Blumer, entende que o empreendedorismo feminino vem ganhando destaque em instituições e organizações. “É um sinal positivo de mudança. No entanto, o fato de ainda precisarmos de pautas específicas para mulheres empreendedoras reflete o quanto estamos longe do ideal. Existe uma resistência maior quando se trata de negócios liderados por mulheres, especialmente em setores como tecnologia, que é onde atuo”.
O Ladies in Tech possui diversos programas e eventos. Entre eles, destacam-se o BeerPitch, um encontro descontraído onde as empreendedoras falam sobre negócios e realizam pitches; workshops mensais exclusivos, conduzidos por mulheres de destaque no mercado; e o Ladies Summit, um evento anual que reúne empreendedoras para networking e aprendizado. Além disso, o grupo promove ações para aproximar nossas integrantes de aceleradoras e fundos de investimento.
Marceli é CEO da EZDocs, startup que criou um software de automação voltado para o setor jurídico, com ênfase em legal analytics (análise de dados aplicada ao direito). “Nosso diferencial está na simplicidade de uso da plataforma, que permite a personalização de documentos e peças processuais sem a necessidade de suporte técnico, algo que muitos sistemas concorrentes não oferecem”, destaca.
A empreendedora conta que a ideia surgiu durante um MBA executivo em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios na FGV, onde foi incentivada a pensar em formas de inovar e escalar seu trabalho. “Percebi a necessidade de ferramentas mais acessíveis para otimizar processos jurídicos, especialmente em termos de previsibilidade de resultados com base em análises de casos anteriores”.
Atualmente a EZDocs atua no Brasil e está estudando oportunidades de internacionalização, especialmente em países europeus que possuem incentivos para startups. “Nosso foco é expandir, mantendo nossa proposta de oferecer uma solução prática e eficiente para profissionais do direito”, destaca Marceli.
Faça parte do Ladies in Tech
Para ingressar no Ladies in Tech, é preciso ser fundadora ou sócia de startup ou empresa de tecnologia e preencher um formulário, disponível aqui, ou acessar o site ou redes sociais do instituto. Aline destaca que o grupo realizada uma curadoria semanal para garantir que as integrantes se beneficiem da troca de conhecimentos e experiências específicas da área, que possui linguagem e desafios próprios.
Trindtech: fortalecimento da liderança feminina
Segundo dados da ONU Mulheres, as mulheres reinvestem até 90% de seus rendimentos em suas comunidades, incluindo áreas como educação, saúde e desenvolvimento local, enquanto os homens reinvestem cerca de 30 a 40% em média. O impacto positivo do empoderamento econômico feminino reforça a importância de promover a igualdade de gênero e o impacto transformador que isso pode gerar em termos sociais e econômicos.
Para a sócia e CHRO da Trindtech, Juliet Bombassaro, mais do que uma data no calendário, o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino é uma oportunidade para refletir, agir e fortalecer a igualdade de gênero nos negócios e na inovação. “Celebramos as conquistas das mulheres que ousaram empreender, criar e liderar, e renovamos o compromisso de ampliar ainda mais esses espaços. O futuro do empreendedorismo é feminino, e estamos construindo esse futuro agora”.
Juliet explica que o empreendedorismo feminino é parte essencial da cultura da startup, que tem sede em Gravataí. “Como sócia e executiva de Recursos Humanos, tenho o privilégio de impulsionar iniciativas que tornam a tecnologia um setor mais inclusivo para mulheres”. Entre as principais ações da Trinditech, destacam-se:
- Inclusão feminina em TI: Priorização de ações para inserir mais mulheres no setor tecnológico, com quase 50% dos talentos femininos apoiados em programas de desenvolvimento, o que desafia a média do mercado.
- Mentorias e desenvolvimento: Mentorias focadas em superar barreiras e desenvolver tanto habilidades técnicas quanto comportamentais, fortalecendo a confiança e a autonomia das profissionais.
- Aceleração de carreiras: Incentivo para que as colaboradoras sejam constantemente estimuladas a assumir novos desafios, seja liderando equipes, palestrando em eventos ou inovando em projetos.
+praTi: Um case de impacto social na prática
Um talento formado, em média, a cada dois dias e meio. Essa é a entrega da +praTi para a sociedade e o mercado de trabalho. Juliet, que também é mentora e líder de RH da comunidade +praTi, destaca que este é um dos projetos que mais a inspiram. “Nessa iniciativa buscamos conectar também mulheres – muitas em busca da primeira oportunidade em TI – com capacitações e vagas no mercado de trabalho. A iniciativa já impactou mais de 1.300 mulheres, com ações voltadas para o desenvolvimento em tecnologia e soft skills”. Para ela, ver de perto as histórias de superação e transformação dessas mulheres reforça o quanto projetos como este são essenciais para criar pontes entre talentos e oportunidades.
Oportunidade de aporte
A Sororitê é uma comunidade de investidoras-anjo que conecta mulheres que querem investir em startups com empreendedoras que precisam de apoio para fundar e escalar seus negócios. O grupo reúne 140 executivas e empresárias, que já investiram mais de R$ 6 milhões em 16 startups. Recentemente lançou seu primeiro fundo de venture capital com foco em diversidade de gênero. A iniciativa de investimento é pioneira no Brasil, buscando apoiar startups em estágio inicial (early-stage) lideradas por equipes diversas, com destaque para empreendedoras.
O fundo visa dar oportunidade de aporte e conexão para fundadoras, promovendo mais oportunidades para mulheres no ecossistema de inovação. Além disso, a Sororitê busca empoderar investidoras ao integrá-las no processo de capital de risco, alinhando impacto social e retorno financeiro.
Apoie o empreendedorismo feminino
Quer fazer parte dessa transformação no empreendedorismo feminino? Conheça e apoie iniciativas como o Ladies in Tech, a Trindtech, a comunidade +PraTI e o fundo de venture capital da Sororitê. Juntas, essas ações estão ampliando o impacto das mulheres no ecossistema de inovação.
Promover o empreendedorismo feminino não é apenas uma questão de justiça social, é um movimento estratégico para inovação e crescimento econômico. Mulheres líderes trazem perspectivas únicas e uma abordagem colaborativa que impulsionam negócios. Para isso, é crucial fomentar habilidades de liderança e oferecer espaços onde possam crescer e se destacar. Dar espaço, voz e confiança não é apenas um gesto, é um compromisso com resultados mais inclusivos, criativos e prósperos. O futuro do empreendedorismo é feminino, e você pode ajudar a construí-lo!