Pacto Alegre lidera esforços para criar cultura de resiliência nos gaúchos frente à crise climática

Pedro Barbosa - editor
Projetos e parcerias visam reconstruir Porto Alegre e preparar a sociedade para novos desafios ambientais.Gustavo Garbino/ PMPA.

Desde o início da emergência climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, o Pacto Alegre tem liderado esforços essenciais para gestão de voluntários, abrigos, limpeza e ajuda humanitária aos desabrigados e animais afetados. Estimativas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul indicam que serão necessários R$ 19 bilhões para reconstruir as áreas devastadas. Frente à magnitude das inundações, o Pacto Alegre, em parceria com a Aliança para Inovação – que envolve UFRGS, PUCRS e Unisinos – está realizando uma série de ações para enfrentar e superar esta crise.

De acordo com o Superintendente do Tecnopuc e representante da PUCRS no Pacto Alegre, Jorge Audy, dada à emergência que vivemos, o Pacto Alegre propôs seis projetos, dos quais cinco ainda estão em operação. “Criamos um desafio, que é o Desafio Extraordinário Porto Alegre Resiliente, que possui como lógica geral consolidar uma cultura de resiliência na nossa comunidade. Sentimos na pele a importância que tem para uma cidade possuir uma estrutura minimamente organizada para enfrentar os desafios climáticos, com governança, planos de contingência e assim por diante”.

Segundo Audy, o Pacto Alegre também criou um grupo de trabalho de apoio internacional, sob coordenação do consultor, Santiago Uribe, de Medellín, com a participação dos especialistas Jeff Hérbert (Coordenador do Escritório de Resiliência de New Orleans), Henk Ovink e Meike van Ginneken (Embaixadores da Água na Holanda), Arnoud Molenaar (Diretor do Escritório de Resiliência de Rotterdam) e Marcelo Pisani (Diretor da OMI da ONU, área de migrações). Este grupo está assessorando o Governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre na realização de um convênio com a Organização Marítima Internacional – OMI, envolvendo as secretarias de Inovação do RS e de Porto Alegre. O objetivo é realizar um levantamento de informações, diagnóstico da situação causada pelas enchentes e discutir modelos de ação. 

Outra iniciativa desenvolvida no Desafio Extraordinário Porto Alegre Resiliente é o Projeto de Emergência Climática e Ambiental RS, que reúne especialistas gaúchos de diferentes áreas de conhecimento, para acompanhar e realizar um monitoramento de dados naturais contínuos, conjugado com um sistema de alertas. “São nove especialistas, que estão reunidos num comitê científico, trabalhando para encontrar soluções de curto, médio e de longo prazo”, ressalta Audy.

Dentro do Desafio Extraordinário Porto Alegre Resiliente, uma das preocupações do Pacto Alegre está relacionada com a migração forçada, tendo em vista que muitas famílias perderam suas casas. “Todos os desafios estão relacionados com a prevenção da migração forçada. Queremos ofertar assistência às famílias e facilitar a migração como estratégia de adaptação das pessoas, melhorando a resiliência das comunidades, que precisam estar mais bem preparadas para situações futuras. E, também, contribuir com a reativação da atividade econômica, do trabalho, que é uma dimensão importante”, explica Audy.

Estratégia de Resposta Climática e Resiliência

Uma das ações mais complexas do Desafio Extraordinário Porto Alegre Resiliente é o Projeto Estratégia de Resposta Climática e Resiliência. A iniciativa apresenta uma abordagem que combina ciência e inovação para transformação social e prevenção de desastres naturais. Como sugere o nome e o conceito por trás dele, tem como missão auxiliar a sociedade gaúcha a retomar ao seu ‘normal’, ou melhor, restabelecer-se.

O projeto tem a missão de monitorar dados naturais continuamente; desenvolver um sistema de alertas; acompanhar o desenvolvimento de infraestrutura básica de água, energia e urbanismo; e comunicar de forma adequada, direta e centralizada a sociedade gaúcha. A ação se dará através de duas frentes principais: Think Tanks e Programas Estruturantes.

Audy ressalta que este é um projeto de longo prazo, que visa consolidar uma cultura de resiliência na comunidade e prepará-la para futuras situações climáticas adversas. O professor entende que as soluções para o enfrentamento da catástrofe climática que atingiram Porto Alegre e o Rio Grande do Sul é algo que será trabalhado ao longo da próxima década. “Tenho esperança de que podemos construir algo que impacte a sociedade. Devemos reconstruir o que tínhamos, mas construir uma nova realidade, um futuro melhor, numa circunstância que seja mais adequada a esse mundo que vivemos, onde as mudanças climáticas chegaram para ficar”.

Precisamos aprender com o que aconteceu, mas olhar para frente e construir uma nova Porto Alegre, para o nosso tempo. Para esse tempo, que vai ser um tempo diferente do que foram as décadas passadas.

Superintendente do Tecnopuc e representante da PUCRS no Pacto Alegre, Jorge Audy.
Superintendente do Tecnopuc e representante da PUCRS no Pacto Alegre, Jorge Audy.

Abrigos e Habitação

Durante a crise, o Pacto Alegre direcionou recursos e esforços para o Comitê de Crise de Abrigos da PMPA, localizado no Tecnopuc. Sob a coordenação de Letícia Batistela, Presidente da Procempa, e Luiz Carlos Pinto, Secretário de Inovação de Porto Alegre, mais de 250 voluntários foram mobilizados. Eles atuaram na gestão da informação e no desenvolvimento de sistemas como SOS RS Ajuda, Voluntários RS e AbrigosRS, fundamentais para a organização e operação da Central de Abrigos de Porto Alegre.

Projeto Abrigos e Habitação é fundamental para atendimento aos desabrigados e projeção para a retomada às residências.

O Projeto Abrigos e Habitação é peça fundamental para atendimento aos desabrigados e projeção para a retomada às residências. Ao todo, cerca de 17 mil pessoas foram alojadas nos mais de 150 abrigos localizados em Porto Alegre.

Limpeza Solidária

Por designação do Secretário de Planejamento de Porto Alegre, Cezar Schirmer, o Pacto está responsável, por meio do projeto Limpeza Solidária, também pelas ações de voluntariado para a limpeza de residências e espaços públicos afetados na cidade. Está atuando nos bairros Cidade Baixa, Humaitá e Menino Deus, articulando voluntários através de plataformas de software, como Meu Lar de Volta e de ONGs, como Green Thinking, POA Lixo Zero e Crisis Cleanup.

Grupo de limpeza solidária ajudou a limpar mais de 150 residências.

A central de trabalho deste grupo de limpeza solidária está localizada junto aos voluntários e à central de abrigos no Tecnopuc. “Já limpamos mais de 150 casas. O projeto envolve captação e treinamento de voluntários, treinamento técnico oferecido pelas empresas, treinamento de suporte socioemocional e a própria limpeza das residências, articulada com prefeitura de Porto Alegre”, destaca Audy.

Além disso, Audy ressalta o foco na reciclagem, com a devida separação dos objetos que podem ser reciclados. “Temos um grupo de pesquisadores de Engenharia de Produção da Ufrgs, que trabalha com economia circular. Eles estão conduzindo esse processo de separação do entulho e a tentativa de aproveitamento máximo. Temos um enorme desafio pela frente”.

Escuta que Faz Bem

O Projeto Escuta que Faz Bem oferece às vítimas das enchentes um espaço de acolhimento, alívio e descompressão, através da escuta ativa, atenta e amorosa de ‘escutadores’. Audy explica que a ação, que é realizada em parceria com o Coletivo POA Inquieta e a rede de farmácias Panvel, que disponibilizou cinco unidades para a realização do trabalho, visa acolher os sentimentos de perda e luto e fortalecer os recursos emocionais e a resiliência para a construção de novos caminhos de vida.

Comunicação Resiliente

A criação de um plano de comunicação para gerenciamento da situação das enchentes, que foca em informar e orientar os gaúchos. Esse é um dos objetivos do Projeto Comunicação Resiliente, que busca orientar e trazer uma visão de futuro que permita a retomada da cidade, busque evitar a evasão de cidadãos e investimentos e, consecutivamente, melhore a autoestima dos porto-alegrenses após o período crítico das enchentes.

Segundo Audy, a ação é baseada em três eixos estruturantes: narrativa, emergência climática e resiliência. “Queremos despertar a consciência de todos e, principalmente, criar uma cultura cidadã para o desenvolvimento, promoção, gestão de iniciativas e estratégias, que orientem o enfrentamento às intempéries naturais oriundas das mudanças climáticas. É isso que a gente chama de cultura de resiliência”.

Hospital Veterinário de Campanha

Mais de 250 cirurgias foram realizadas no Hospital Veterinário de Campanha (HVC), destinado a atender animais atingidos pela tragédia ambiental. A ação, que não está mais ocorrendo, foi realizada no estacionamento da Unisinos, em Porto Alegre. O espaço foi projetado especificamente para atender animais que necessitavam de cirurgia e funcionou por quatro semanas, mediante encaminhamento dos abrigos. A ação foi articulada com o Exército Brasileiro, Hospital Veterinário da UFRGS, a Brigada Militar e o Hospital Vila Nova.

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Jornalista e Mestre em Comunicação, ambos pela Unisinos. Cursa pós-graduação - MBA em Design Digital e Branding e pós-graduação em Gestão da Tecnologia da Informação, ambos na Uninter. Já atuou no setor público e privado, tendo trabalhado no governo do Estado do Rio Grande do Sul, com deputados estaduais, federais, no Jornal NH e no Parque Tecnológico São Leopoldo - Tecnosinos.
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