Desafios de 2024 reforçam necessidade de criação de startups mais resilientes

Pedro Barbosa - editor
Catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul tem reflexos sobre a economia brasileira.Cristine Rochol/PMPA.

Segundo dados do Observatório Internacional do Sebrae, uma a cada quatro startups encerra as atividades em um tempo menor ou igual a 12 meses. Quando o período passa para até três anos, o resultado é ainda mais alarmante: cerca de 90% das empresas fecham as portas. Somado a isso, em 2024, a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio tem desdobramentos para a economia de todo o país. Seja logística, abastecimento, distribuição de insumos ou disponibilidade de capital, diversos fatores podem interferir no desenvolvimento das startups brasileiras neste momento. Do total das empresas impactadas pela catástrofe da enchente, 91% dos CNPJs são inscritos no Simples Nacional. Dentre estes, muitas startups.

Como os negócios podem sobreviver e crescer diante deste cenário de destruição? Para os fundadores da edtech Startup Academy, a primeira graduação brasileira voltada para a criação de negócios inovadores, a resposta está no conceito de “startup resiliente”. Ou seja: empresas que priorizam o crescimento sustentável e resiliente.

Para a CEO e cofundadora da Startup Academy, Juliana Suzin, é preciso encarar a realidade de uma nova forma, gerir competências e habilidades, focando na reconstrução fundamentada em ecossistemas específicos das startups. “Antes de tudo, é preciso voltar ao ponto inicial e reaprender como se criar – ou recriar – uma empresa, de qualquer porte. As startups devem já nascer com essa estrutura, essa cultura”.

O papel das startups é superar a crise que veio com as enchentes. Mas, para isso, os empreendedores precisam pensar diferente, precisam de uma gestão mais adequada à nova economia.

CEO e cofundadora da Startup Academy, Juliana Suzin
Sócios da Startup Academy Susana Kakuta, Alsones Balestrin e Juliana Suzin.

Capacidade para se reinventar

O cofundador da Startup Academy, Alsones Balestrin, alerta para a ideia de que só basta ter um sonho para fazer acontecer. “Antes de fundar ou reerguer uma startup, são necessários preparação, estudo e todo um ecossistema baseado em dimensões político-legais, em capital humano, infraestrutura, sustentabilidade, economia e sociedade”.

Para Juliana, muitas pessoas abrem startups focadas em financiamentos externos ou de sociedades, em momentos que se veem sem outras opções, sem preparo e nem orientação, principalmente após uma tragédia climática como esta. “O que acontece, então, quase que como consequência, são ideias que não se sustentam, não se renovam e nem se alinham à maturidade do negócio”.

Susana Kakuta, que também é sócia e cofundadora da Startup Academy, frisa a importância do plano de voo da empresa, de dar ‘um cavalo de pau’, redirecionando o modelo de negócio ou mesmo o produto. “É nesse momento que o pensar ágil das startups e sua capacidade de reinvenção são demandados com maior força, e isto precisa estar refletido num novo plano de voo. Uma guinada que deve incluir marketing, vendas, gestão, modelo financeiro e desenvolvimento de produto. Mas, precisa emanar e comprometer, principalmente, as pessoas da empresa. Tudo precisa estar alinhado com a estratégia e o mindset da startup”.

Susana aponta ainda que são momentos como este que põem em cheque as inúmeras startups nascidas em amplos processos de fomento, nos ecossistemas, mundo afora. “É sempre bom lembrar que: uma ideia nem sempre vira um produto, e um produto nem sempre suporta uma empresa. O entendimento desta regra simples pode atenuar a alta taxa de mortalidade destes empreendimentos e, por outro lado, se bem aplicada, pode atuar positivamente no surgimento de negócios resilientes”.

IA como aliada

Novas tecnologias com uso de inteligência artificial (IA) tem modificado o cenário de startups de sucesso. Juliana explica que uma startup promissora levava, em média, cinco anos para virar unicórnio (empresa avaliada em mais de US$ 1 bilhão de valor de mercado). De 2021 para cá, esta espécie ‘rara’ ficou mais comum e nota-se uma ascensão tão rápida que algumas startups levaram apenas 12 meses para receber a mágica classificação. “O resultado é que temos centenas de unicórnios surgindo ao redor do mundo, na contramão de um grande número de negócios que não resistem ao primeiro ano por falta de gestão, com ênfase nos caminhos da sustentabilidade e resiliência”.

Para Juliana, outro ponto focal é o tipo de governança. Após a tragédia no RS, é crucial voltar os olhos para questões ambientais, climáticas, preventivas, também para compliance e padronização de processos. “Ao relembrar e organizar os fundamentos e missões de sua startup, agora é hora de reagir, focado nas dimensões para o ecossistema dela e na resiliência, que tem que vir em lugar de destaque nesta nova mentalidade que se desenha. Para que os empreendedores façam essa mudança de chave, a educação e a qualificação são fundamentais. Não sobreviverá no mercado quem não investir em conhecimento”.

Por Pedro Barbosa editor
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Jornalista e Mestre em Comunicação, ambos pela Unisinos. Cursa pós-graduação - MBA em Design Digital e Branding e pós-graduação em Gestão da Tecnologia da Informação, ambos na Uninter. Já atuou no setor público e privado, tendo trabalhado no governo do Estado do Rio Grande do Sul, com deputados estaduais, federais, no Jornal NH e no Parque Tecnológico São Leopoldo - Tecnosinos.
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